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Revista Economia n. 13.pmd - Faap

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a um acordo. Dizia ele: “não podemos deixar mais nas mãos dos nossos<br />

negociadores. Parece que eles não têm mais cartas no colete. Os líderes é que<br />

têm de dar as cartas agora” 3 .<br />

Com a pretensão de ser considerado grande liderança mundial, o presidente<br />

brasileiro procura, com suas viagens, apresentar-se como tal e mostrar que não<br />

faltam condições para o país ocupar lugar de realce na pirâmide do poder global,<br />

porque competência estaria sendo demonstrada pela diplomacia brasileira, por<br />

meio da presença de seu representante maior. Obviamente que, além da<br />

costumeira hospitalidade formal, outorgada pelos demais representantes às<br />

demandas brasileiras, poucos resultados concretos têm sido conseguidos pelo<br />

país, inclusive a aspiração maior de estar junto, na mesa dos grandes líderes,<br />

com igual poder de decisão nos assuntos internacionais.<br />

Na realidade, esta análise do cenário internacional, feita pelas autoridades<br />

de Brasília, não é recente. Anos atrás, ainda como candidato à Presidência da<br />

República, Lula costumava tecer comentários pouco generosos ao estilo de<br />

governo de seu agora antecessor Fernando Henrique Cardoso, maldizendo o<br />

fato de que o presidente apenas viajava, descuidando-se dos negócios do Estado.<br />

E alegava não haver necessidade de tantas viagens, já que se obtinha poucos<br />

resultados com essa estratégia. Após assumir a Presidência, Lula, contudo, viajou<br />

em seu primeiro mandato (2003-2006) mais do que seu antecessor o fizera em<br />

seu governo de oito anos (1995-2002). Em uma das oportunidades, logo no<br />

início de seu primeiro ano de governo, com seu conhecido estilo paroquial e<br />

deslumbrado com as facilidades colocadas à sua disposição, chegou a comentar<br />

que o bom de ser presidente é que se podia viajar bastante 4 . Mas nem por isso os<br />

resultados foram mais satisfatórios, apesar de argumentar que o presidente tem<br />

de se colocar sempre na linha de frente e apresentar-se em todo o mundo, seja<br />

fazendo acordos políticos, seja negociando para salvaguardar os interesses<br />

nacionais. Não é de estranhar-se, portanto, a declaração por ele feita após ida<br />

aos Estados Unidos, em março de 2007, assumindo que nada fora conseguido,<br />

mas que a viagem fora importante.<br />

O país como ator global já era, portanto, uma ambição que vem desde a<br />

década passada, quando Fernando Henrique Cardoso implementou a diplomacia<br />

do Estado empresário, como escreveu Richard Rosecrance, dentro do contexto<br />

do pós-Guerra Fria, com o colapso da União Soviética, em uma nova ordem<br />

emergente 5 . Com características semelhantes às do governo anterior, mutatis<br />

mutandis, em função das distintas conjunturas, a atual política externa tem se<br />

caracterizado por operar em várias frentes, dando ênfase ao intercâmbio regional<br />

via Mercado Comum do Sul (Mercosul) e à cooperação mais aprofundada através<br />

3 Cf. MARIN, D.C. Rodada Doha ganha impulso no G-8. Mas não como Lula queria. O Estado de S.<br />

Paulo, 18 jul 2006, p. B1.<br />

4 Uma visão acerca das viagens e estilo do presidente Lula pode ser encontrada em SCOLESE, E.;<br />

NOSSA, L. Viagens com o Presidente. Dois repórteres no encalço de Lula do Planalto ao exterior. Rio de<br />

Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2006.<br />

5 Sobre esse conceito, cf. ROSECRANCE, R. The rise of the trading State – commerce and conquest in<br />

the Modern Age. New York: Basic Books, 1986.<br />

O Brasil e os foros internacionais: os anos recentes, Shiguenoli Miyamoto, p. 35-48<br />

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