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Revista Economia n. 13.pmd - Faap

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pensava, egoisticamente, da seguinte forma: “o que é meu é meu; o que é dos<br />

demais é negociável”. Ao responder ao presidente francês, Lula ressaltou: “eu<br />

continuo otimista que o presidente Chirac vai ceder um pouco. Penso que, se<br />

nós não fizermos um acordo, estaremos contribuindo para o retrocesso no<br />

comércio exterior dos países mais pobres” 1 . Um jogo duplo foi utilizado pelo<br />

presidente Lula em tal oportunidade. De um lado, ao negociar com um grande<br />

país na arena internacional, tentava dali tirar o máximo proveito; e, de outro,<br />

colocava-se como membro da comunidade menos favorecida, que necessita de<br />

vantagens especiais para alavancar seu desenvolvimento.<br />

Posições como essas são, naturalmente, apresentadas e defendidas quando<br />

estão na mesa de negociações interesses dos países, que utilizam todas as formas,<br />

recursos e influências para obter condições mais satisfatórias para ver atendidas<br />

suas demandas. Por isso, críticas ácidas são feitas todo o tempo pelos agentes<br />

envolvidos, que não abrem mão de suas reivindicações, mesmo que possam<br />

prejudicar ou afetar economias alheias, independentemente de seu estágio de<br />

desenvolvimento.<br />

Sabedor de que o jogo das relações internacionais não se faz de maneira<br />

caridosa, mas sim por meio do uso das capacidades que detém, cada país utiliza,<br />

portanto, de acordo com suas escolhas, todos os instrumentos que possui. Não<br />

se preocupa com quaisquer problemas de ordem moral, embora retórica nessa<br />

direção esteja sempre presente. Entre discurso e prática, contudo, existe um<br />

largo fosso, perceptível no dia-a-dia das grandes nações, e também na dos demais<br />

Estados, exemplificado pelo caso brasileiro.<br />

Nesse contexto, a par de todas essas dificuldades, o governo brasileiro tem<br />

agido de forma incessante e desordenadamente, às vezes obtendo sucesso maior,<br />

outras vezes redundando em completo fracasso. Certamente esta forma de agir<br />

desconsidera, em grande parte, que, ao fazer suas demandas, o país nem sempre<br />

possui os vetores adequados, nem capacidade real para se contrapor, de maneira<br />

eficaz, ao poder dos demais concorrentes. Nem por isso deixa de ter suas<br />

aspirações ou de arregimentar apoio para suas causas.<br />

Bases Bases da da política política externa externa brasileira<br />

brasileira<br />

Desde meados dos anos 90, a terminologia “diplomacia presidencial” passou<br />

a ser utilizada para se designar a conduta adotada pelo governo brasileiro, em<br />

seu relacionamento global, através da figura do chefe de Estado2 . Cada vez<br />

mais, o presidente da República tem circulado pelo mundo, tomando as rédeas<br />

das negociações políticas e econômicas, na tentativa de conferir credibilidade às<br />

demandas do país. Tal ponto de vista foi realçado por Lula ao presidente norteamericano<br />

George Bush nas negociações de Doha, em julho de 2006, quando<br />

os demais membros da delegação, incluindo o chanceler, não conseguiam chegar<br />

36<br />

1 Cf. CHADE, J.; MARIN, D.C. Chirac critica Lula por falta de flexibilidade. O Estado de S. Paulo, 18<br />

jul 2006, p. B3.<br />

2 Sobre a diplomacia presidencial, inclusive do governo Fernando Henrique Cardoso, cf. DANESE, S.<br />

Diplomacia presidencial. São Paulo: Topbooks, 1999. No governo de João Figueiredo essa terminologia<br />

já era utilizada.<br />

<strong>Revista</strong> de <strong>Economia</strong> & Relações Internacionais, vol.6(13), 2008

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