Revista Economia n. 13.pmd - Faap
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As prioridades de Brasília também incluem as viagens ao continente africano,<br />
inclusive pecando pela falta de planejamento, muitas vezes sem qualquer agenda<br />
prévia, e perdoando a dívida de vários países, como se fez com os vizinhos do<br />
continente sul-americano. Nesse caso, o intuito seria o de captar apoio africano<br />
para a obtenção de um lugar como membro permanente no Conselho de<br />
Segurança das Nações Unidas, reivindicação que o país faz há quase vinte anos 9 .<br />
A busca pela vaga na ONU é assim explicada por Lula: “não é uma pretensão,<br />
é uma reivindicação de um direito, estamos reivindicando que a ONU seja<br />
democratizada” 10 . Na realidade, essa demanda é bastante antiga, e data dos<br />
anos 20 do século passado, ainda no tempo da Liga das Nações, quando o Brasil,<br />
pelo fato de não ter obtido assento correspondente, abandonou a instituição em<br />
1926 11 .<br />
A insistência por ocupar cargos de direção nas instâncias internacionais tem<br />
sido uma constante, ainda que nem sempre bem-sucedida. Vários exemplos<br />
podem ser lembrados. A candidatura para a presidência do Banco Interamericano<br />
de Desenvolvimento (BID), em julho de 2005, com João Sayad; e a pretensão<br />
de ocupar o cargo de diretor-geral da OMC, em setembro do mesmo ano, com<br />
o embaixador Luiz Felipe de Seixas Correa, redundaram em fracasso. O que se<br />
observou nesses dois acontecimentos foi uma falta visível de competência para<br />
articular apoio aos candidatos, aliada a uma análise deficiente da correlação de<br />
forças que estavam em disputa. Outras duas tentativas podem ser computadas,<br />
e que percorreram a mesma trilha do insucesso: a disputa pelo cargo de presidente<br />
da conferência anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em<br />
junho de 2004, quando o ex-ministro do Trabalho e Emprego Ricardo Berzoini<br />
foi derrotado pelo candidato da República Dominicana, não conseguindo sequer<br />
o apoio do Haiti; e com Roberto Blois Montes de Souza, na disputa pelo cargo<br />
de Secretário-Geral da União Internacional de Telecomunicações (UIT), em<br />
novembro de 2006.<br />
No mesmo diapasão, não se conseguiu levar adiante a proposta de<br />
reestruturação do Conselho de Segurança da ONU (CS/ONU), após essa ter<br />
sido considerada talvez a prioridade máxima da política externa do primeiro<br />
mandato de Lula. Imaginou-se, equivocadamente, que apenas a vontade política<br />
e o discurso seriam suficientes para arrebanhar o apoio necessário para atingir os<br />
objetivos almejados, sem se dar conta da rigidez do sistema internacional, superavaliando<br />
uma capacidade que não possuía.<br />
No momento, tais demandas não têm sido mais contempladas como<br />
prioritárias, exceto a vaga no Conselho de Segurança, dirigindo forte atenção<br />
para as negociações que apresentam escopo global, envolvendo os grandes países.<br />
9 Sobre a tentativa brasileira de ingressar na ONU, ver o ensaio de FRANÇA, D.O. Dissertação de<br />
mestrado em Relações Internacionais apresentada ao Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas<br />
Unesp/Unicamp/PUC-SP, defendida em 2005, digitalizada. Disponível em: .<br />
10 Cf. CELESTINO, H. Amorim: mais apoio para Brasil no G-8. O Globo, 25 jun 2004.<br />
11 Há bons textos que abordam esse tema. Cf. GARCIA, E.V. O Brasil e a Liga das Nações (1919-1926).<br />
Porto Alegre/Brasília: Editora da Universidade/UFRGS/Fundação Alexandre de Gusmão, 2000.<br />
SANTOS, N.B. Le Brésil et la Société des Nations (1920-1926). Tese de Doutorado em Ciências<br />
Políticas apresentada à Universidade de Genebra, Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais,<br />
1996.<br />
O Brasil e os foros internacionais: os anos recentes, Shiguenoli Miyamoto, p. 35-48<br />
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