Revista Economia n. 13.pmd - Faap
Revista Economia n. 13.pmd - Faap
Revista Economia n. 13.pmd - Faap
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
do projeto de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (Iirsa). Para<br />
atender a este último objetivo, o governo tem utilizado, inclusive, o Banco<br />
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – a maior agência<br />
de fomento nacional, criada nos anos 50, com a finalidade de financiar projetos<br />
domésticos – para projetar a influência do país no subcontinente sul-americano,<br />
servindo como instrumento de política externa.<br />
Um dos problemas enfrentados por Brasília é que o governo nem sempre<br />
cumpre com o prometido, motivo pelo qual o Uruguai, que seria contemplado<br />
com recursos do BNDES, ainda no governo de Jorge Batlle Ibáñez, nunca viu<br />
qualquer fundo depositado em suas contas. Por isso, em fevereiro de 2007, até<br />
para evitar um aprofundamento da crise do Mercosul, com a ameaça do Uruguai<br />
em sair do bloco, o governo brasileiro realizou diversas concessões ao vizinho.<br />
Adotando comportamento semelhante, liberou R$ 20 milhões (em torno de<br />
US$ 10 milhões) ao Paraguai em janeiro de 2007 para modernizar o sistema<br />
aduaneiro do país, prometendo auxílio à Bolívia na compra de equipamentos<br />
agrícolas, já que com esse país tem tido problemas, sobretudo com relação à<br />
presença da empresa petrolífera brasileira, a Petrobrás.<br />
Apesar de toda essa atenção, o governo brasileiro parece não ter domínio<br />
preciso sobre o que ocorre nessa parte do continente. Por ocasião da intervenção<br />
decretada por Evo Morales nas empresas petrolíferas, o Brasil manifestou surpresa<br />
com as decisões bolivianas. Pouco tempo depois, no começo de 2007, dizia<br />
ignorar qualquer tipo de negociações entre Venezuela, Bolívia e Cuba para<br />
atuarem conjuntamente na OMC, indicando total desconhecimento sobre a<br />
questão, enquanto esses países se movimentavam sem quaisquer dificuldades 6 .<br />
Mais recentemente, contudo, com forte apoio brasileiro, formalizou-se em 23<br />
de maio do corrente ano a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em<br />
Brasília – se bem que um dos grandes objetivos, que era a criação do Conselho<br />
Sul-Americano de Defesa, não chegou a ser concretizado 7 .<br />
No plano continental, o Brasil manifestou-se contrário à criação da Área de<br />
Livre Comércio das Américas (Alca), sendo, por isso, interpretado como antiamericano,<br />
quando, segundo a retórica governamental, nada mais fez do que<br />
dar prosseguimento à diplomacia autônoma, ativa e altiva. Este comportamento,<br />
aliado a outras divergências com o governo de George Bush, trouxe enormes<br />
dissabores para os formuladores da política externa brasileira, merecendo ressalvas<br />
de membros importantes do corpo diplomático, como Roberto Abdenur, exembaixador<br />
em Washington, que criticou fortemente o Ministério das Relações<br />
Exteriores, por ele considerado ideológico e anti-americano 8 .<br />
38<br />
6 Conferir essas informações em CHADE, J. Venezuela, Bolívia e Cuba criam bloco paralelo para<br />
defender posições na OMC. O Estado de S. Paulo, 11 jan 2007, p. A10.<br />
7 O texto integral de constituição da Unasul , através da Nota n.º 265 de 23/05/2008 – Distribuição<br />
22, do Itamaraty, pode ser consultada em: . Acesso em: 25 mai 2008.<br />
8 Ver os comentários do embaixador em CABRAL, O. Entrevista: Roberto Abdenur – Nem na ditadura.<br />
Veja, São Paulo, ano 40, n.º 5, 1994, Seção “Paginas Amarelas”, p. 11, 14 e 15. No caso, tanto dessa<br />
entrevista, quanto nas demais manifestações de outros ex-embaixadores, tratou-se, claramente, de uma<br />
disputa interna dos diferentes grupos na instituição.<br />
<strong>Revista</strong> de <strong>Economia</strong> & Relações Internacionais, vol.6(13), 2008