Revista Economia n. 13.pmd - Faap
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Para ser fiel ao pensamento original de qualquer autor é preciso deixar que<br />
o biografado fale por si. É, de fato, o que faz o biógrafo. Também por esse<br />
motivo citarei muitos textos originais de Einstein. As fontes das citações constam<br />
rigorosamente das notas elaboradas pelo biógrafo, capítulo por capítulo, no fim<br />
da sua obra.<br />
Pessoalmente interessei-me de modo especial pelo prisma metodológico.<br />
Por várias razões: a primeira é porque leciono Metodologia Científica há mais<br />
de 15 anos; a segunda, por ter sido este campo do saber um dos meus principais<br />
focos de pesquisa já há mais de duas décadas, particularmente em relação à<br />
filosofia da ciência e, de modo particular, à Ciência Econômica.<br />
Além de clássicos de cultura geral, como Antígona, de Sófocles, e Dom<br />
Quixote, de Cervantes, Einstein se interessava por obras filosóficas e de<br />
metodologia da ciência. Leu Kant, Hume, Spinoza, Mach, Poincaré... essas<br />
leituras, particularmente o Tratado da Natureza Humana, de Hume,<br />
contribuíram para o desenvolvimento de suas próprias idéias sobre filosofia da<br />
ciência. Antes de examinar algumas dessas idéias, entretanto, é importante indagar<br />
a respeito do que contribui de maneira mais significativa para a Metodologia<br />
Científica: as teorias desenvolvidas pelos cientistas ou o próprio pensamento<br />
desses mesmos cientistas sobre a metodologia?<br />
Um exemplo da ciência econômica, que neste caso concreto é valido para<br />
as ciências em geral, pode ajudar a esclarecer essa questão: na família Keynes,<br />
pai e filho, John Neville e John Maynard, respectivamente, contribuíram de<br />
modo significativo para a metodologia da ciência econômica. O pai, com a<br />
publicação, em 1890, de The Scope and Method of Political Economy, obra que<br />
sintetiza o debate da literatura econômica em torno à metodologia que deve ser<br />
utilizada na construção das teorias econômicas. O filho, John Maynard, de modo<br />
particular pela célebre Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936.<br />
Embora seja John Neville quem tratou especificamente da metodologia da<br />
ciência econômica, foi John Maynard quem, de fato, a revolucionou com a<br />
formulação de uma teoria que desafiou o paradigma dos estudos econômicos,<br />
obrigando os economistas a repensar a metodologia da própria ciência.<br />
Em face do dilema metodologia de uma ciência versus teoria científica,<br />
Einstein recomenda olhar mais para a contribuição acadêmica do cientista do<br />
que para o que ele afirma sobre o método científico. Na conferência Herbert<br />
Spencer (em Oxford), em 10 de junho de 1933, Einstein desenvolveu o tema<br />
“On the method of theoretical physics”. Na exposição recomendava, referindose<br />
à compreensão da filosofia da ciência por parte dos físicos: “não ouça o que<br />
eles dizem, preste atenção aos seus atos”. Essa consideração se aplica, portanto,<br />
ao próprio Einstein.<br />
“Prestar atenção aos atos” de Einstein conduz-nos à conclusão de que a<br />
observação da realidade é o ponto de partida e de chegada dele próprio. Este<br />
aspecto é amplamente enfatizado pelo biógrafo em relação ao biografado.<br />
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<strong>Revista</strong> de <strong>Economia</strong> & Relações Internacionais, vol.6(13), 2008