competências envolvidas na interação, como competência retórico-pragmática,enciclopédica e lógica - sem deixar de considerar a competência lingüística comoeixo a partir do qual as demais competências se articulam, para, enfim, postular<strong>um</strong>a hiper-competência. Ou ainda posições como a de Hymes, o primeiro adialogar com Chomsky em torno da problemática instaurada pela noção decompetência. Hymes, como Kerbrat-Orecchioni, não rejeita o postulado de <strong>um</strong>acompetência lingüística, mas chama a atenção para <strong>um</strong>a dimensão social dalinguagem, a partir do que seria necessária a consideração de <strong>um</strong>a competênciacomunicativa.O que está na base do impasse referente à competência lingüísticachomskyana é justamente o estudo ou não da performance, do desempenho,enquanto objeto da lingüística – enquanto elemento constitutivo da linguagem. Aabordagem enunciativa que ass<strong>um</strong>o como vetor de meu estudo orienta minhaescolha teórica, justamente pela inserção da performance enquanto elementoconstitutivo da linguagem e, portanto, da Lingüística. Ainda que a abordagemdesenvolvida nesta tese se aproxime das abordagens de Hymes e de Kerbrat-Orecchioni, deles se distingue por não fazer <strong>um</strong>a relação meramentecomplementar, mas sim constitutiva, entre o lingüístico e o pragmático, ou entre acompetência e a performance, nos termos chomskyanos.Dessa forma, a linguagem somente pode ser analisada a partir dainteração, ressaltando, assim, o agenciamento simultâneo de categoriaslingüísticas e pragmático-enunciativas, operado pelos sujeitos nela envolvidos.Essas categorias respeitam os marcadores formais da língua (o aparelho formalda enunciação), como operadores, modalizadores, marcas de pressuposição (deimplícitos), índices de avaliação e de polifonia, acarretamento, implicatura,inferência, campos conceituais, frames, scripts, anáforas e outros marcadores decoesão; mas respeitam também marcas pragmático-enunciativas, como atos defala, máximas e marcadores conversacionais.Na interação, os interlocutores podem exibir suas habilidades em usar, emsaber colocar em uso essas categorias, essas ferramentas. Proceder à análise docorpus em função de ações lingüísticas e sociais, de atos de fala e de91
intersubjetividade, faz com que esse saber seja compreendido como prática, e nãocomo faculdade – diferentemente da maneira como Chomsky concebe a noção decompetência lingüística.A competência constitui-se, assim, em <strong>um</strong> saber-fazer, <strong>um</strong> colocar emprática <strong>um</strong>a série de operações lingüísticas enunciativamente investidas, as quaisenvolvem também operações metalingüísticas, na medida em que osinterlocutores se valem, por exemplo, de auto-correção e de reformulação de seudizer - como o faz MG no dado I, para esclarecer o sentido que pretendia com aexpressão ir à excursão sozinha.A arg<strong>um</strong>entação constitui <strong>um</strong> ato enunciativo, em que diferentes e diversassemioses verbais e não verbais (como gestos, postura corporal, olhares,desenhos, entre outras) estão nele imbricadas. A linguagem está, então, sempreno interior de situações sociais, em meio a comunidades específicas, vinculada adeterminado tipo de situação comunicativa.Contudo, os sujeitos não exibem os mesmos saber-fazer relativos àlinguagem - é necessário considerar, desse modo, que os diversos mecanismosde que dispõem são operados de maneira heterogênea.O grau de letramento, o conhecimento de mundo, a inserção social, asrelações afetivas e hierárquicas, bem como a própria situação interativa,interferem de maneira decisiva no desempenho discursivo dos interlocutores.Assim, o agenciamento das diferentes semioses é organizado em função daquelesmecanismos que o falante melhor manipula, de que tem mais domínio, maisfamiliaridade. Nas <strong>afasias</strong>, a utilização de semioses não-verbais pode serressaltada justamente porque o aspecto verbal da linguagem está comprometidoem várias de suas funções, apresentando, por exemplo, alterações fonéticofonológicas,inibição da complexidade sintática, dificuldade de acesso lexical,entre outras.Em res<strong>um</strong>o, se o afásico exibe operações que demonstram diferentessaber-fazer, relativos às semioses verbais e não-verbais envolvidas na interação,pode-se dele dizer que possui <strong>um</strong>a competência para a linguagem, que lhepermite, entre outras ações de linguagem, arg<strong>um</strong>entar.92
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Eliana da Silva TavaresCOMPETÊNCIA
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AbstractMy dissertation is inscribe
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Nesse sentido, os dados de afasia s
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a linguagem está na natureza do ho
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manobra ducrotiana está a serviço
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de constituição mútuas. Nesse ca
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o estudo do sentido deve levar em c
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