as palavras não podem ser definidas senão pelas própriaspalavras, e não em relação ao mundo, ou em relação aopensamento. (...) não defino, propriamente falando, aspalavras em relação a outras palavras, mas em relação aoutros discursos. O que eu tento construir então seria <strong>um</strong>aespécie de estruturalismo do discurso.Quando Ducrot fala em Estruturalismo do Discurso está falando emencadeamentos arg<strong>um</strong>entativos autorizados, possíveis, a partir do que considera,em Princípios de Semântica Lingüística (1977), como unidade mínima de análise:os enunciados, que são discursos mínimos. Na versão lexical da Teoria dos Topoi,afirmar que as palavras são tomadas relativamente a outros discursos implicanecessariamente reconhecer que as palavras suscitam, autorizam encadeamentosdiscursivos.Nos dados V e VI, CI rejeita os topoi intrínsecos e acrescenta topoiextrínsecos aos provérbios, movimento que somente pode ser estabelecido apartir da enunciação. Com essa operação, CI re-orienta arg<strong>um</strong>entativamente osencadeamentos discursivos esperados a partir dos provérbios.Assim, a constituição da TAL enquanto teoria autônoma está vinculada àsrelações inter<strong>nas</strong> definidoras de suas categorias, como em Saussure. Entretanto,a natureza das relações opositivas dessas categorias seria distinta, na medida emque nos estudos saussureanos as unidades da língua devem ser constituídas apartir de suas relações formais, e na TAL a partir das possibilidades deencadeamento discursivo que suscitam, movimento que traz a significação para ointerior da língua.A Teoria da Arg<strong>um</strong>entação na Língua propõe <strong>um</strong>a explicação que consisteno princípio de que por detrás dos predicados lexicais não existem nem objetosnem propriedades, mas topoi. São esses topoi que definem o sentido daspalavras. Porque o sentido do enunciado será "calculado" a partir dos valoressemânticos "profundos", representando no domínio semântico <strong>um</strong> papel análogoàquele da estrutura profunda na gramática gerativa (Anscombre 1995b: 02).Resta saber, segundo Anscombre, de que natureza será esse sentidoprofundo, que parece estar diretamente relacionado ao tipo de inferência realizadana utilização da língua. A discussão relativa ao sentido de <strong>um</strong>a palavra movimenta85
seu eixo, cabendo então questionar quais topoi o definem, já que os topoi sãofontes de discurso, e não o que garante a passagem de <strong>um</strong> arg<strong>um</strong>ento a <strong>um</strong>aconclusão, como a própria TAL havia proposto em versão anterior. Nesse sentido,vale lembrar que <strong>um</strong> topos é complexo em função das frases envolvidas, porquenão é <strong>um</strong> amálgama de noções pré-existentes, mas sim <strong>um</strong>a relação complexaentre palavras que não servem para estabelecer deduções sobre os fatos domundo (Ducrot apud Moura: 1998, 178).Ducrot (Moura: 1998) rejeita a perspectiva de conceituar os topoi enquanto<strong>um</strong> conjunto de crenças ou de inferências acerca do mundo. Assim, <strong>um</strong> feixe detopoi pode possibilitar <strong>um</strong>a arg<strong>um</strong>entação e não outra, dependendo, inclusive, dafigura do enunciador/ locutor para a determinação de que orientaçãoarg<strong>um</strong>entativa será autorizada, especificada.Nessa direção, o modo de apresentação dos enunciados seria especificadopor seus enunciadores, o que leva Ducrot (1987) 54 a questionar a unicidade dosujeito, rejeitando o postulado de que a cada enunciado corresponderia <strong>um</strong> autor.Sua posição é desenvolvida com base <strong>nas</strong> considerações de Bakhtin acerca depolifonia; contudo, enquanto Bakhtin estuda a polifonia relativamente ao texto,sobretudo o texto literário, Ducrot compromete-se em investigá-la no enunciado.Para Ducrot (1987: 163-164), já que todo enunciado traz consigo <strong>um</strong>aqualificação de sua enunciação, qualificação que constitui (...) o sentido doenunciado (...), é necessário descrever sistematicamente as imagens daenunciação que veicula.Ducrot caracteriza a figura dos enunciadores como relativa a diferentespontos de vista, como responsável pelas diferentes vozes que falam noenunciado, pelos diferentes discursos, que são expressos pela enunciação.Entretanto, não os toma enquanto origem do sentido, como afirma em Henry(1992: 204):para que eu possa ser a origem do sentido de minhaspalavras, seria necessário efetivamente que eu primeiropossa, no momento em que falo, conhecer esse sentido,54 Restrinjo-me aqui ao capítulo VIII, Esboço de <strong>um</strong>a teoria polifônica da enunciação.86
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AbstractMy dissertation is inscribe
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