Essas categorias fundamentam a propriedade que a língua tem de serauto-referencial e auto-reflexiva, a partir da atualização discursiva constantementeoperada pela enunciação.As condições de emprego das formas não são, em nossomodo de entender, idênticas às condições de emprego dalíngua. (...) o emprego da língua, (...) de <strong>um</strong>a maneira ou deoutra, afeta a língua inteira. (...) A enunciação é este colocarem funcionamento a língua por <strong>um</strong> ato individual de utilização(Benveniste: 1985, 81-82).Assim, o discurso seria <strong>um</strong>a manifestação da enunciação, já que aenunciação supõe a conversão individual da língua em discurso. Antes daenunciação, a língua não é senão possibilidade de língua. (id.: ib., 83).O estudo da enunciação a partir de <strong>um</strong>a perspectiva lógica está atrelado àsemântica de mundos possíveis, ou à semântica intensional, e às filosofias quetomam como objeto a linguagem ordinária, como o faz a Escola de Oxford, porexemplo. São essas as duas formas com que a enunciação pode estar atrelada àlógica. A semântica intensional tem seu expoente em Frege, que estabelecedistinção entre sentido e referência, enquanto os estudos filosóficos ligados àlinguagem ordinária estão relacionados aos atos de linguagem, de discurso, ouainda, de fala, resultando <strong>um</strong>a Pragmática lingüística.Lingüistas como Culioli e Ducrot recusam a independência hierárquica queMorris e Carnap atribuem à sintaxe, semântica e pragmática, apontando, assim,para <strong>um</strong> viés de estudos lingüísticos, em que a pragmática constituiria <strong>um</strong>adisciplina integrada à semântica (Moeschler: 1985).Nesta perspectiva, a enunciação, em sentido estrito, por <strong>um</strong> lado, estárelacionada aos mecanismos conversacionais, responsáveis pelo funcionamentoda linguagem, a partir de unidades da própria língua. Trata-se de <strong>um</strong>a visão neoestruturalista,como a de Ducrot, que se limita à relação do sujeito enunciador coma língua. Por outro lado, o estudo da enunciação também se dá a partir derelações lógico-lingüísticas fundamentadas em ações lingüísticas, nos atos de23
linguagem, na performatividade da língua - visão pragmaticista, mas que tambémse limita à relação do sujeito com a língua.Apesar de limitados à relação entre enunciador e língua, os trabalhos neoestruturalistasampliam a noção de categoria enunciativa, ao estenderem seusestudos das unidades lingüísticas à investigação do enunciado. As categoriasenunciativas são concebidas como sistemas de correspondências entre conjuntosde operações e de marcas lingüísticas. O contexto passa a exercer, no discurso, opapel de situação, de ponto de referência para a enunciação seguinte (como naTeoria da Arg<strong>um</strong>entação na Língua); com isso, o conjunto das operaçõesconstitutivas do enunciado, integradas ao campo enunciativo, também passa a serconsiderado.Nessa medida, todos os estudos estão subordinados à enunciação,passando das categorias formais às categorias nocionais e das operaçõesestritamente enunciativas ao conjunto das operações constitutivas do enunciado -construindo modelos enunciativos de linguagem. O desafio dessas teoriasconsiste justamente na possibilidade de ampliar seu campo de análise sem quesua capacidade operatória seja perdida.A passagem do estudo de categorias formais para o estudo de categoriasnocionais resguarda a noção de marcas lingüísticas, ainda que de maneira maistênue, em função da ampliação do conceito de categoria enunciativa. Essemovimento pode ser exemplificado pela passagem do estudo do “eu”, dêitico, àcategoria de pessoa, do estudo de “aqui”, também dêitico, à categoria de espaço,e assim por diante.A noção de categoria enunciativa visa tornar possível a inserção dacategoria “sujeito” no interior do sistema lingüístico, mas procurando manter,ainda, sua qualidade operatória.Os estudos pragmáticos, de base enunciativa, são aqueles desenvolvidospor Austin, na Teoria dos Atos de Fala, em que importa destacar as distinçõespostas pelas categorias constatativo/ performativo e ilocutório/ perlocutório, e porGrice, com as Máximas Conversacionais, em que importa extrair as regrasconversacionais que arbitram as relações discursivas.24
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seu eixo, cabendo então questionar
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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ANEXOS
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Informações neuropsicológicas e
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acompanhou até o final de 2002, qu
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