gradualidade respeita <strong>um</strong>a noção que toma a força arg<strong>um</strong>entativa de <strong>um</strong>predicado lingüístico como variável, determinando que sua aplicação tenha maiorou menor intensidade.Assim, os topoi envolvem pares de predicados, p e q, que podem seraplicados segundo duas escalas arg<strong>um</strong>entativas 51 , que pode ser convergente, naqual se tem, "quanto mais p, mais q (+p, +q)”, ou “quanto menos p, menos q (-p, -q)”, ou seja, em que os predicados são orientados n<strong>um</strong>a mesma direção 52 : (+) p (+) q (-) p (-) qou divergente, "quanto mais p, menos q (+p, -q)”,ou “quanto menos p, mais q (-p,+q)”, em que os predicados são orientados em direções opostas: (+) p (-) q (-) p (+) qA gradualidade dos predicados intervêm nos elementos semânticos quedesempenham papel de arg<strong>um</strong>entos, ou seja, os predicados arg<strong>um</strong>entativosseriam, por si mesmos, graduais; o que implica afirmar que o topos a sustentaresses predicados arg<strong>um</strong>entativos seja também gradual. Essa perspectiva degradualidade dos topoi é apresentada n<strong>um</strong>a primeira versão da teoria, em que asinvestigações relativas à arg<strong>um</strong>entação ainda se constituíam pela consideração dapassagem de <strong>um</strong> arg<strong>um</strong>ento a <strong>um</strong>a conclusão. O recorte do dado VII, abaixo,ilustra essa noção:53 CI: Eu-eu-eu-eu-eu depois do derrame, eu procurei livros, né ? Lá na biblioteca... livros é prá ... entender, o que aconteceu comigo, né ? Não encontrei livros, sólivros muito, ca... é ? muito é-é-é voltados pra professores, né ? Professores, compalavras difíceis, eu perdi as palavras, né ? Lembra, né ? Eu perdi as palavras, aí51 Para maiores detalhes ver Ducrot (1981).52 As setas são utilizadas para indicar orientação arg<strong>um</strong>entativa.53 Agradeço a Ana Lucia Tubero por me ceder as primeiras transcrições desse dado.81
eu achei é-é-é eu achei <strong>um</strong>-<strong>um</strong>-<strong>um</strong>a enciclopédia é-é-é pra ensi ... pra-pro-pra-praenfermeiro, né ? Pra enfermero, é-é-é aí eu achei a parte de afasia, e a parte dederrame cerebral. Boa ! Mas pra enfermero !MC: Acessível ...CI: Pra enfermero, não pra médi ... não pra paciente!EM: Não pra leigos, é isso ...Quando CI afirma que, após o AVC, procurou livros na biblioteca paraentender o que tinha lhe acontecido, instaura duas escalas: por <strong>um</strong> lado, <strong>um</strong>aescala arg<strong>um</strong>entativa convergente, em que “maior é a dificuldade de entender oque seja afasia” (o que aconteceu comigo) + P, “quanto mais o livro tenha palavrasdifíceis” (seja voltado para professores ou enfermeiros) + q; por outro lado, o dadonão deixa de instaurar também <strong>um</strong>a escala divergente, a partir da qual “menorserá a dificuldade de entender o que seja afasia” - P, “quanto mais o livro tenhapalavras fáceis” (porque a gente tem que te palavras fácil) + q.A gradualidade do topos é estabelecida a partir da relação entre o quantopossa ser difícil entender o que seja afasia e a dificuldade ou facilidade daspalavras utilizadas para explicar essa noção. Nessa perspectiva, os predicadosarg<strong>um</strong>entativos seriam por si mesmos graduais, já que o topos a sustentar essespredicados seriam também graduais, pois quanto mais difíceis as palavrasutilizadas, mais difícil a compreensão de afasia.CI estabelece <strong>um</strong>a gradualidade do topos ainda mais complexa, <strong>um</strong>a vezque se vale de <strong>um</strong>a escala em que elenca, hierarquicamente, professores,enfermeiros e leigos, aos quais atrela o uso de <strong>um</strong>a linguagem que vai da maior àmenor dificuldade de compreensão, do jargão clínico mais hermético, à linguagemmais acessível a leigos.Essa última aplicação de gradualidade faz ressaltar arg<strong>um</strong>entos maispontuais, reafirmando que as escalas graduais estariam inscritas na próprialíngua, o que levaria a admitir que há <strong>um</strong>a gradualidade específica presente emBoa! Mas pra enfermero!; Pra enfermero, não pra medi... não pra paciente!, ouseja, a própria noção de topos acaba por apresentar <strong>um</strong>a natureza eminentementegradual.82
- Page 1 and 2:
Eliana da Silva TavaresCOMPETÊNCIA
- Page 3:
Ficha catalográfica elaborada pela
- Page 7 and 8:
Pedro.Aos amigos do GEAE de Barão
- Page 9 and 10:
Índice1. Apresentação do problem
- Page 11 and 12:
AbstractMy dissertation is inscribe
- Page 13 and 14:
Nesse sentido, os dados de afasia s
- Page 15 and 16:
justamente enquanto capacidade do l
- Page 17 and 18:
linguagem ordinária a partir da co
- Page 19 and 20:
a linguagem está na natureza do ho
- Page 21 and 22:
manobra ducrotiana está a serviço
- Page 23 and 24:
2. ArgumentaçãoNeste capítulo, r
- Page 25 and 26:
Platão provoca uma ruptura entre r
- Page 27 and 28:
A Lógica dos predicados está vinc
- Page 29:
objeto da Nova Retórica consiste n
- Page 33 and 34:
suas intenções discursivas e toda
- Page 35 and 36:
linguagem, na performatividade da l
- Page 37 and 38:
de constituição mútuas. Nesse ca
- Page 39 and 40:
o estudo do sentido deve levar em c
- Page 41 and 42: Nesse sentido, as qualidades intera
- Page 43 and 44: 3. CompetênciaMinha questão neste
- Page 45 and 46: elativamente a categorias como enun
- Page 47 and 48: Conceber competência dessa forma f
- Page 49 and 50: frases gramaticalmente bem-formadas
- Page 51 and 52: lembra, contudo, que a expressão c
- Page 53 and 54: Essas duas primeiras competências
- Page 55 and 56: hierárquica, o que, mais uma vez,
- Page 57 and 58: natureza sócio-cognitiva, e ainda
- Page 59 and 60: gramaticais, discursivas, pragmáti
- Page 61 and 62: Argumentar, enfim, é algo que a l
- Page 63 and 64: nosso café, compartilhando as cena
- Page 65 and 66: convocam o locutor/ interlocutor a
- Page 67 and 68: ET: nossa... eu quero muito conhece
- Page 69 and 70: lhe oferece, mas em nenhum momento
- Page 71 and 72: Nesta interação, o desenho de uma
- Page 73 and 74: EM: gente... uma coisa é... o seu
- Page 75 and 76: MS: a::h ((fazendo sinal de assenti
- Page 77 and 78: neta e que seu nome é o mesmo de u
- Page 79 and 80: somente para a expressão oral, mas
- Page 81 and 82: JT: tão achando que é o ETA simSP
- Page 83 and 84: unidade lexical vaga: evento. Em se
- Page 85 and 86: Ducrot e colaboradores propõem-se
- Page 87 and 88: Estabelecer a materialidade lingü
- Page 89 and 90: enunciados modificados pelos operad
- Page 91: necessárias, fazendo com que se to
- Page 95 and 96: elativamente a enciclopédia boa pr
- Page 97 and 98: seu eixo, cabendo então questionar
- Page 99 and 100: Na Semântica ducrotiana, argumenta
- Page 101 and 102: 5. Considerações finaisA abordage
- Page 103 and 104: intersubjetividade, faz com que ess
- Page 105 and 106: 6. Referências BibliográficasAMOS
- Page 107 and 108: GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
- Page 109 and 110: _____. "Semântica e Argumentação
- Page 111 and 112: ANEXOS
- Page 113 and 114: Informações neuropsicológicas e
- Page 115 and 116: 4. EFSexo: masculinoData de nascime
- Page 117 and 118: acompanhou até o final de 2002, qu
- Page 119: UMA MÃO LAVA A OUTRAFigura 1Fonte: