O agenciamento de diferentes saber-fazer exibidos pelos afásicos, nosdados apresentados nesta tese, demonstra que não é possível dizer que na afasianão haja linguagem; além disso, a linguagem afásica, ainda que consideradaresidual, não deixa de se valer de elementos lingüístico-pragmáticos, além deelementos não-verbais – como o faz EF, no dado II, ao mobilizar de maneiraenfática recursos prosódicos, cuja natureza é lingüístico-pragmática. Assim, aafasia explicita não somente os diversos recursos semiológicos que podem serutilizados na interação, como também a diferença com que são mobilizados erequeridos, de acordo, justamente, com a especificidade de cada indivíduo e dassituações interativas e sociais em que se engajam.Para finalizar, destaco que ass<strong>um</strong>ir a arg<strong>um</strong>entação enquanto unidade decoesão e de orientação discursiva possibilita abordar os fenômenos lingüísticosem geral, e particularmente aqueles postos pelas <strong>afasias</strong>, na intenção deperscrutar as estratégias de que se valem os sujeitos (afásicos ou não), no intuitode dar conta de suas intenções discursivas, quando expostos à arena socialinstituída pelo uso da linguagem.Uma concepção dessa natureza mostra que <strong>um</strong> afásico não silenciadiscursivamente, apesar das dificuldades que possa ter, e mesmo apesar daavaliação referente às suas próprias dificuldades, o que pode ser observado naponderação de CI 56 , ao dizer eu perdi as palavras, né? Lembra, né? Eu perdi aspalavras. Neste ponto, o simples fato de efetuar este ato de locução demonstra oquanto não está desprovido desses recursos lingüísticos, nem de <strong>um</strong>a posturameta relativamente às suas possibilidades de uso e de manipulação da linguagem.Na verdade, apesar de toda assimetria que possa haver entre osinterlocutores afásicos e não-afásicos <strong>nas</strong> relações de interação, CI, a exemplo deoutros sujeitos afásicos, exerce seu papel enunciativo 57 de maneira eficaz,arg<strong>um</strong>entando de maneira competente em relação a seus propósitos, e com issoenfrentando as injunções relativas à sua linguagem e à sua inserção social.56 Remeto o leitor ao dado à página 77.57 Os dados demonstram que CI exerce <strong>um</strong> papel enunciativo, na medida em que ele pergunta, predica,responde, narra.93
6. Referências BibliográficasAMOSSY, R. L´arg<strong>um</strong>ention dans le discours. Discours politique, littérature,d´idées, fiction. Paris: Nathan, 2000.ANSCOMBRE, J.C. “La théorie des topoï: sémantique ou rhétorique?". In RevistaHermes. (mimeo). 1995a._____. "Introduction to 'De-realising modifiers'". In Journal of Pragmatics, Elsevier:s/ ed., 1995b, v. 24._____. "Théorie de L'Arg<strong>um</strong>entation, Topoï, et Structuration Discursive". In Revuequébécoise de linguistique. Montreal: UPAM, 1989, v. 18:1.ANSCOMBRE, J.; DUCROT, O. "Arg<strong>um</strong>entativité et informativité". In MEYER, M.(ed). De la métaphysique à la rhétorique. Bruxelas: ed. da Universidade deBruxelas, 1986._____. "L' Arg<strong>um</strong>entation dans la Langue". In Langages. s/ l: Didier-Larousse, juin-1976, v. 42.ARISTÓTELES. Retórica. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1998.AUSTIN, J. How to do things with words. Oxford: Oxford University Press, 1962.BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, Hucitec, 1988.BARTHES, R. "A Retórica Antiga" in COHEN, J. et alii. Pesquisas de Retórica. Riode Janeiro: Vozes, 1985. [1975]BANKS-LEITE, L. Aspectos arg<strong>um</strong>entativos e polifônicos da linguagem da criançaem idade pré-escolar. Tese (Doutorado em Lingüística). Instituto de Estudos daLinguagem. Campi<strong>nas</strong>: UNICAMP, 1996.BENVENISTE, É. Problemas de Lingüística Geral I. São Paulo: Pontes, 1995.[1966]_____. Problemas de Lingüística Geral II. São Paulo: Pontes, 1995. [1966]BRUXELLES, S. et alli. "Arg<strong>um</strong>entation et Champs Topiques Lexicaux". In Journalof Pragmatics, Elsevier: s/ed, 1992, v. 24.CANGUILLEM, G. O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária,1982. [1966]CAREL, M. “Trop: arg<strong>um</strong>entation interne, arg<strong>um</strong>entation externe et positivité.” InANSCOMBRE, J. De l’arg<strong>um</strong>entation dans la langue à la théorie des topoï. Paris:Kimé, 1995.CASTILHO, A. A língua falada no ensino de português. São Paulo: Contexto,1998.CASTRO, M. “A arg<strong>um</strong>entação na impossível simetria do diálogo: a aquisição dalinguagem em questão”. In Letras de Hoje. Porto Alegre: PUCRS, 2004. v. 39, n.03._____. “A arg<strong>um</strong>entação na fala da criança: entre fatos de língua e de discurso”. InLingüística. São Paulo: Hedra, 2001. v. 13.CAZELATO, S. A interpretação de provérbios equivalentes por afásicos: <strong>um</strong>estudo enunciativo. Dissertação. (Mestrado em Lingüística). Instituto de Estudosda Linguagem. Campi<strong>nas</strong>: UNICAMP, 2003._____. Estudo de formas meta-enunciativas em sujeitos afásicos: a enunciaçãoproverbial. Projeto. (Iniciação Científica). Instituto de Estudos da Linguagem.Campi<strong>nas</strong>: UNICAMP, 1998a.94
- Page 1 and 2:
Eliana da Silva TavaresCOMPETÊNCIA
- Page 3:
Ficha catalográfica elaborada pela
- Page 7 and 8:
Pedro.Aos amigos do GEAE de Barão
- Page 9 and 10:
Índice1. Apresentação do problem
- Page 11 and 12:
AbstractMy dissertation is inscribe
- Page 13 and 14:
Nesse sentido, os dados de afasia s
- Page 15 and 16:
justamente enquanto capacidade do l
- Page 17 and 18:
linguagem ordinária a partir da co
- Page 19 and 20:
a linguagem está na natureza do ho
- Page 21 and 22:
manobra ducrotiana está a serviço
- Page 23 and 24:
2. ArgumentaçãoNeste capítulo, r
- Page 25 and 26:
Platão provoca uma ruptura entre r
- Page 27 and 28:
A Lógica dos predicados está vinc
- Page 29:
objeto da Nova Retórica consiste n
- Page 33 and 34:
suas intenções discursivas e toda
- Page 35 and 36:
linguagem, na performatividade da l
- Page 37 and 38:
de constituição mútuas. Nesse ca
- Page 39 and 40:
o estudo do sentido deve levar em c
- Page 41 and 42:
Nesse sentido, as qualidades intera
- Page 43 and 44:
3. CompetênciaMinha questão neste
- Page 45 and 46:
elativamente a categorias como enun
- Page 47 and 48:
Conceber competência dessa forma f
- Page 49 and 50:
frases gramaticalmente bem-formadas
- Page 51 and 52:
lembra, contudo, que a expressão c
- Page 53 and 54: Essas duas primeiras competências
- Page 55 and 56: hierárquica, o que, mais uma vez,
- Page 57 and 58: natureza sócio-cognitiva, e ainda
- Page 59 and 60: gramaticais, discursivas, pragmáti
- Page 61 and 62: Argumentar, enfim, é algo que a l
- Page 63 and 64: nosso café, compartilhando as cena
- Page 65 and 66: convocam o locutor/ interlocutor a
- Page 67 and 68: ET: nossa... eu quero muito conhece
- Page 69 and 70: lhe oferece, mas em nenhum momento
- Page 71 and 72: Nesta interação, o desenho de uma
- Page 73 and 74: EM: gente... uma coisa é... o seu
- Page 75 and 76: MS: a::h ((fazendo sinal de assenti
- Page 77 and 78: neta e que seu nome é o mesmo de u
- Page 79 and 80: somente para a expressão oral, mas
- Page 81 and 82: JT: tão achando que é o ETA simSP
- Page 83 and 84: unidade lexical vaga: evento. Em se
- Page 85 and 86: Ducrot e colaboradores propõem-se
- Page 87 and 88: Estabelecer a materialidade lingü
- Page 89 and 90: enunciados modificados pelos operad
- Page 91 and 92: necessárias, fazendo com que se to
- Page 93 and 94: eu achei é-é-é eu achei um-um-um
- Page 95 and 96: elativamente a enciclopédia boa pr
- Page 97 and 98: seu eixo, cabendo então questionar
- Page 99 and 100: Na Semântica ducrotiana, argumenta
- Page 101 and 102: 5. Considerações finaisA abordage
- Page 103: intersubjetividade, faz com que ess
- Page 107 and 108: GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
- Page 109 and 110: _____. "Semântica e Argumentação
- Page 111 and 112: ANEXOS
- Page 113 and 114: Informações neuropsicológicas e
- Page 115 and 116: 4. EFSexo: masculinoData de nascime
- Page 117 and 118: acompanhou até o final de 2002, qu
- Page 119: UMA MÃO LAVA A OUTRAFigura 1Fonte: