Com isso, começa a proliferar <strong>um</strong>a significativa predicação sobrecompetência - que sempre dialoga com o postulado chomskyano – o quetestemunha sua força e seu alcance na comunidade lingüística mundial.Kerbrat-Orecchioni (1986), a partir de <strong>um</strong>a noção de quadro de interaçãoverbal, referente à língua em uso, centrada no ponto de vista da decodificação,propõe <strong>um</strong> estudo que busca compreender como os enunciados sãocompreendidos 17 (id.: 1986, 09), ou seja, busca saber como os alocutários 18interpretam as mensagens; para tanto, adianta que deles é suposta <strong>um</strong>a hipercompetência,que abarcaria as quatro competências de que se valem, quaissejam, lingüística, enciclopédica, retórico-pragmática e, finalmente, <strong>um</strong>acompetência lógica.Nesse quadro, cabe à competência lingüística a possibilidade decodificação e de decodificação dos enunciados; esta competência respeita,portanto, o cotexto, as regras gramaticais da língua, a prosódia, o status deinformação intra-textual, que permite extrair as informações intra-enunciativas, ouseja, seu funcionamento respeita o suporte significante da língua.À competência enciclopédica são atribuídas as responsabilidades relativasao contexto e à enunciação - aqui entendida como a contextualização doenunciado, mas somente na medida em que coloca o enunciado em <strong>um</strong> contextoespecífico, não havendo nenh<strong>um</strong>a remissão à perspectiva de que a enunciaçãoconstitui, ela também, a significação expressa pelo enunciado, como o faz aTeoria da Arg<strong>um</strong>entação na Língua, por exemplo.Cabe a essa competência as informações contextuais que constituem <strong>um</strong>avasta reserva de informações extra-enunciativas centradas sobre o contexto,conjunto de saberes e de crenças, sistema de representações, interpretações eavaliações do universo referencial 19 (id.: 1986, 162).17 comprendre comment les énoncés sont compris (Kerbrat-Orecchioni: 1986, 09).18 Em todo o texto, a referência aos participantes do “circuito enunciativo” é feita com os termos locutor ealocutário.19 un vaste réservoir d’informations extra-énoncives pourtant sur le contexte, ensemble de savoirs et decroyances, système de representations, interpretations et évaluations de l’univers référentiel (Kerbrat-Orecchioni: 1986, 162).41
Essas duas primeiras competências estariam mais imbricadas, e seriamresponsáveis pela possibilidade de codificação e de decodificação dosenunciados, bem como de sua contextualização, constituindo-se comocompetências relativas à língua propriamente dita.Para a autora, cabem à competência retórico-pragmática atribuições denatureza discursiva, relativas ao papel desempenhado pelas próprias leis dodiscurso, como as noções de máximas conversacionais, de Grice, a Teoria dosAtos de Fala, de Austin, a noção de leis do discurso, de Ducrot e os postulados deconversação, de Lakoff e Gordon, entre outros. Desta competência é esperada apossibilidade de aferir a pertinência discursiva do enunciado já contextualizado - oseu funcionamento discursivo. Nessa medida, a competência retórico-pragmáticaconstitui o conjunto dos saberes que <strong>um</strong> sujeito falante possuisobre o funcionamento destes “princípios” discursivos quesem ser imperativos da mesma forma que as regras de boaformação sintático-semântica, [esses princípios discursivos]devem ser observados por quem quer jogar honestamente ojogo da troca verbal 20 (Kerbrat-Orecchioni: 1986, 194).À competência lógica (natural) cabem mecanismos lógicos como inferência,silogismo, implicação, acarretamento - os implícitos. À esta competência parecemser atribuídas propriedades de interpretação semântica, mas de natureza lógica,ainda que de <strong>um</strong>a lógica relativa à língua natural, e não de característicasenunciativas ou discursivas, como as alocadas na competência retóricopragmática.De acordo com Kerbrat-Orecchioni (id.), o conjunto dessas quatrocompetências, articuladas entre si, em planos hierárquicos distintos, e comatribuições específicas, é o que constitui a hiper-competência, da qual se vale todoalocutário para realizar as operações de cálculo interpretativo.Essas competências orientariam os passos, as démarches que devem serseguidas para o estabelecimento do cálculo interpretativo do sentido. Seu20 constitue l’ensemble des savoirs qu’un sujet parlant possède sur le fonctionnement de ces “principes”discursifs qui sans être impératifs au même titre que les règles de bonne formation syntatico-sémantique,doivent être observes par qui veut jouer honnêtement le jeu de l’échange verbal (Kerbrat-Orecchioni: 1986,194).42
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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ANEXOS
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Informações neuropsicológicas e
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acompanhou até o final de 2002, qu
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