Os estudos desenvolvidos por Ducrot figuram entre aqueles queprimeiramente se contrapõem às investigações semânticas firmadas sobre aconcepção clássica de vericondicionalidade, ao apresentarem a noção deencadeamento arg<strong>um</strong>entativo como aporte para as premissas teóricas quepropõem; além de manter conceitos fundamentais, como as noções de operadoresarg<strong>um</strong>entativos (OAs) e de polifonia, desenvolvidas desde os primeiros estudos daTAL (Ducrot 1977, 1987).Inicialmente a TAL propõe <strong>um</strong> componente lingüístico e <strong>um</strong> componenteretórico, para dar conta do processamento da significação. Entretanto, restava adificuldade de saber em qual componente alocar os OAs - se no componentelingüístico ou no retórico -. N<strong>um</strong>a reformulação dessa questão, é trabalhada aevidência de que a capacidade arg<strong>um</strong>entativa de <strong>um</strong> enunciado consiste noconjunto de conclusões (c) possíveis a partir de <strong>um</strong> enunciado (E), por meio de<strong>um</strong> OA que esteja implícito ou explícito. Então, o problema pode ser res<strong>um</strong>ido pelaimpossibilidade de reconhecer a existência de <strong>um</strong> elemento encadeador entre <strong>um</strong>arg<strong>um</strong>ento e sua conclusão, já que pela simples existência de <strong>um</strong> operador nãofica clara a maneira como a ligação entre ele e os enunciados que articula seprocessa: se por meio de inferência ou de conhecimento compartilhado.Na Teoria dos Topoi, princípios como universalidade, gradualidade egeneralidade, bem como a noção de formas tópicas, vão redimensionar aperspectiva com que Ducrot concebe as possibilidades de encadeamentoarg<strong>um</strong>entativo, até chegar a sua versão lexical, em que os topoi estariam inscritos<strong>nas</strong> próprias palavras.Em sua primeira fase, os topoi são considerados <strong>um</strong> conjunto de crençascomuns a <strong>um</strong>a coletividade, que permitem usar como arg<strong>um</strong>ento determinadoestado de coisas para favorecer <strong>um</strong>a certa conclusão 50 , com base nos princípiosque os qualificam, sobre os quais vou me deter mais pontualmente.O princípio de universalidade garante que os topoi representem categoriasgerais de valor e de expressão de atitudes, e não verdades logicamente50 Essa noção diz respeito a <strong>um</strong>a primeira versão da teoria; Ducrot (1998 apud Moura) já não aceita aconsideração de que os topoi sejam tomados como <strong>um</strong> conjunto de crenças ou de inferências.79
necessárias, fazendo com que se tornem comuns a determinado número deinterlocutores; somente esse consenso pode possibilitar o funcionamento dostopoi enquanto elementos arg<strong>um</strong>entativos, cuja aceitação não implica,imprescindivelmente, <strong>um</strong> acordo entre seus interlocutores, mas sim oreconhecimento de sua validade e possibilidade de <strong>um</strong>a orientação arg<strong>um</strong>entativaespecificada. Cabe destacar que a teoria não requer a unanimidade de <strong>um</strong> topos,mas sim o seu reconhecimento; movimento que lhe possibilita dar ênfase àproposição de orientações arg<strong>um</strong>entativas distintas, bem como atrelá-las adiferentes enunciadores, mobilizando, assim, fontes/ lugares de perspectivaalternativos e relacionáveis.Com isso, o caráter universal dos topoi faz com que seja necessárioreconhecê-los enquanto elementos capazes de coagir os interlocutores, <strong>um</strong>a vezque sua universalidade garante minimamente unidades comuns que devem sernão somente reconhecíveis, mas ass<strong>um</strong>idas ou rejeitadas no movimento deorientação arg<strong>um</strong>entativa, como ilustram os dados V e VI, e ainda o dado VII,analisado adiante.Postas as coisas dessa maneira, os valores e as atitudes relacionados aomundo são explicitados por meio dos elementos arg<strong>um</strong>entativos mobilizados peloenunciador. Diferentemente da perspectiva de língua enquanto entidadedescritiva, o enunciador atribui determinada propriedade aos objetos do mundo,legitimando, assim, sua posição relativamente a tais situações do mundo.É imprescindível compreender que, se a linguagem descreve a realidade, ofaz por meio de aspectos subjetivos e intersubjetivos, e que a unificação dessesdois aspectos conduz ao valor arg<strong>um</strong>entativo.Para Ducrot, as características apontadas em relação ao caráter universaldos topoi exigem que esses sejam, também, gerais, haja vista a necessidade deserem compartilhados e passíveis de aplicação em situações análogas.O princípio de gradualidade, por sua vez, ainda que se valha de algunsconceitos formais, não deixa de rechaçar a perspectiva de vericondicionalidade,justamente porque procura abranger a intensidade arg<strong>um</strong>entativa com que <strong>um</strong>predicado lingüístico é aplicado, seguindo determinada orientação. Portanto, a80
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Eliana da Silva TavaresCOMPETÊNCIA
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AbstractMy dissertation is inscribe
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