2.2 Arg<strong>um</strong>entação e enunciação: questões semânticas e pragmáticasAo propor <strong>um</strong> estudo de natureza enunciativa em relação à arg<strong>um</strong>entação,permito-me abrir mão de abordar os estudos de semântica notadamente formal –não por negar sua importância para a compreensão dos fenômenos semânticos,mas antes por predicar minha investigação como enunciativa, o que me fazcaminhar, cada vez mais, em direção a fenômenos lingüísticos de ordemenunciativo-discursiva, como interação, por exemplo; ou seja, fenômenos quepossibilitam investigar a língua em seu funcionamento, o que, por sua vez,ressalta a importância de <strong>um</strong> corpus de linguagem ordinária.Estabelecidas estas questões, é possível apontar indagações relativas ànatureza do auditório, aos papéis atribuídos aos interlocutores, à própria situaçãoenunciativa e à performatividade da língua, no sentido de buscar compreender pormeio de que recursos arg<strong>um</strong>entam as pessoas com afasia.Convocar a enunciação para o escopo das pesquisas lingüísticas faz comque a importância atribuída ao estudo do enunciado, fora de contexto, perca oposto de destaque que ocupava até a Lingüística tomar para si a enunciaçãoenquanto categoria de análise. Nessa medida, os estudos relacionados aoestabelecimento do sentido passam a ocupar <strong>um</strong> lugar central <strong>nas</strong> pesquisaslingüísticas, sobretudo pelas categorias de análise que apresentam.Esse movimento somente é possível a partir dos trabalhos de Bakhtin,Benveniste e outros, que possibilitam o desenvolvimento de teorias sociais daenunciação, a partir da inclusão do sujeito na linguagem, marcando asubjetividade na língua - fenômeno que instaura os fundamentos da enunciação, asaber, as marcações dêiticas de pessoa, espaço e tempo referentes ao discurso.Para Bakhtin, a enunciação requer <strong>um</strong> posicionamento responsivo entre ossujeitos envolvidos na interação, porque não considera ape<strong>nas</strong> a relação doenunciador com a língua, mas sim a relação do enunciador com a língua e seuinterlocutor, de maneira circunstanciada - em que estão envolvidos os papéis dosinterlocutores, as imagens que fazem e que pretendem constituir de si e do outro,21
suas intenções discursivas e toda sorte de elementos articulados no proferimentodo enunciado.De acordo com Cervoni (1989), o estudo do sentido deve levar em contasuas condições de produção, e estas somente podem ser especificadas seconsideradas contextualmente, já que o próprio contexto contribui para o sentidodo enunciado, na medida em que interfere, entre outras coisas, em suaaceitabilidade. Assim, (id.: 99) a interpretação [do sentido] decorre de <strong>um</strong>ainterrogação que se refere não ao enunciado, mas à enunciação.É nessa interface, entre os mecanismos, as ferramentas lingüísticas, queconstituem aquilo que Benveniste (1995) denomina o aparelho formal daenunciação, e suas condições de uso - no funcionamento da linguagem - e noscontextos de interação, que a determinação do sentido se relaciona com aproblemática da enunciação (Cervoni: 1989).Além de Cervoni, outros autores apresentam questões importantesrelacionadas ao estudo da enunciação, como Fuchs (1985), que retoma a relaçãoentre enunciação e retórica, gramática e lógica. A autora parte da noçãoaristotélica de retórica, e a relaciona com discurso, enquanto aproxima gramáticade língua, e lógica de linguagem - apresentada como <strong>um</strong>a re-descoberta daenunciação (Fuchs: id., 111).Assim como a retórica aristotélica, a perspectiva enunciativa está atreladaao papel ass<strong>um</strong>ido pelo orador - ethos -, às imagens, ou paixões, que pretendedespertar no auditório – pathos -, e à organização das partes do discurso – taxis -.Esses passos são todos constituídos em função da enunciação, dosmecanismos envolvidos na produção do discurso, que, em última medida, seriamresponsáveis pelo funcionamento desse discurso.As questões enunciativas impostas à gramática são aquelas referentes àproblemática do sujeito e também as responsáveis pelo funcionamento da língua,como a dêixis e a modalidade verbal. Assim, Fuchs (id.: ib.) retoma Benveniste,que categoriza as unidades dêiticas e modais como índices, enquanto Jakobson(1957) as categoriza como shifters, embreantes - que estarão na base dasemântica greimasiana.22
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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ANEXOS
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Informações neuropsicológicas e
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