Os estudos que tomam, entretanto, as relações enunciativas e interativasdessa forma não deixam de alojar o pragma fora da língua, ainda que ancorado naescassa e fluida linha que separaria o interior e o exterior lingüístico. Umaafirmação de tal natureza parece conduzir a <strong>um</strong>a contradição, na medida em quenesta tese é ass<strong>um</strong>ida <strong>um</strong>a perspectiva enunciativa relativamente à linguagem, ouseja, em que as análises propostas se dão justamente a partir de seufuncionamento.Do ponto de vista teórico-metodológico, é mais funcional e melhorexplicativo postular interior e exterior lingüístico como <strong>um</strong> contínuo, que se interrelacionamjustamente por meio da enunciação, responsável pelacircunstancialização da língua e pelas relações discursivas - ambas autoconstitutivas.É nesse eixo, nessa borda enunciativa, que os interlocutores exibem suashabilidades no manuseio de categorias da língua e de categorias postas pelaenunciação; categorias marcadas notadamente no sistema gramatical da língua ecategorias relativas ao seu funcionamento discursivo, respectivamente.A noção de pragmática integrada estabelece <strong>um</strong> amálgama entre aconstituição da significação (objeto mesmo da semântica) e os efeitos que osentido pode produzir, por meio de implícitos, por exemplo, bem como o estatutode sua arquitetura formal, <strong>um</strong>a espécie de “gramática do discurso”, em quecategorias como enunciação e interação seriam partes de sua organização.Cabe lembrar que a este estudo interessa (ao propor <strong>um</strong>a investigaçãoenunciativa relacionada à arg<strong>um</strong>entação) buscar compreender como a linguagempõe e dispõe de categorias próprias para a arg<strong>um</strong>entação; e mais, como se efetuae efetiva a manipulação dos recursos lingüísticos e discursivos no interior do atoenunciativo. Minha expectativa é de que <strong>um</strong> corpus constituído por dados deafasia possibilite não somente a investigação em linguagem ordinária (dalinguagem em uso), mas também a explicitação dos mecanismos envolvidos noato enunciativo, justamente por causa das restrições lingüístico-discursivasimpostas pela afasia.29
Nesse sentido, as qualidades interativas do Centro de Convivência deAfásicos (CCA) são substantivas para <strong>um</strong> bom desempenho por parte dosafásicos, <strong>um</strong>a vez que os sujeitos não-afásicos ali envolvidos têm por metajustamente fazer com que o afásico disponha das melhores condições possíveispara se expressar. A relevância do auditório com que lida <strong>um</strong> afásico no CCAconsiste justamente no conhecimento dos pesquisadores nele envolvidos, noconhecimento dos diferentes sujeitos afásicos entre si, na história que constitui ogrupo. Essas relações fazem com que haja <strong>um</strong> cuidado especial às leisdiscursivas, como seja cooperativo, à manutenção ou concessão de turnoconversacional, por exemplo, além do papel mediador relevante de recursos comoo prompting.Assim como a afasia não deve ser considerada ape<strong>nas</strong> <strong>um</strong> problemacircunscrito ao cérebro, também não deve ser tomada somente como questão demetalinguagem, porque, como pode ser observado nos encontro do CCA, ossujeitos afásicos arg<strong>um</strong>entam, apesar das restrições que lhes são impostas. Aafasia deve, então, ser considerada em sua dimensão social 12 , <strong>um</strong>a vez que afetaas relações de interação social de que participam os sujeitos afásicos.Como já apontei, as dificuldades com a linguagem decorrem não somenteda lesão cerebral, mas também da situação de interlocução (favorecidas pelaespecificidade das práticas de linguagem desenvolvidas no CCA). As restriçõescom a linguagem são devidas, ainda, ao grau de escolaridade e de letramento, emesmo às atividades e aos papéis sociais que os sujeitos mantinham antes dalesão cerebral - que os constituíam ou em que eram constituídos socialmente.Enfim, no que diz respeito às questões postas até aqui, elas podem serres<strong>um</strong>idas da seguinte maneira: (i) arg<strong>um</strong>entar requer <strong>um</strong>a competêncialingüística e/ou pragmática?, ou (ii) arg<strong>um</strong>entar requer <strong>um</strong>a competência maisabrangente, predicável como enunciativo-pragmática?, ou ainda, (iii) arg<strong>um</strong>entarenvolve o amálgama de diferentes saberes operativos em relação à linguagem,12 O livro Sobre as <strong>afasias</strong> e os afásicos: subsídios teóricos e práticos elaborados pelo Centro de Convivênciade Afásicos (Morato et alli: 2003) aborda a questão da afasia justamente a partir da consideração desses trêsaspectos: cérebro, linguagem e sociedade.30
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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Informações neuropsicológicas e
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acompanhou até o final de 2002, qu
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