A pragmática, por sua vez, percorre o caminho inverso àquele dascorrentes neo-estruturalistas, <strong>um</strong>a vez que busca, a partir de aspectos nocionais ediscursivos, chegar às marcas lingüísticas que os constituem – o ponto com<strong>um</strong>entre as duas abordagens é relativo justamente ao propósito de ambas: dar contado todo da linguagem, constituírem <strong>um</strong>a Teoria Geral da Ação Lingüística. Assim,contrariamente à pragmática lógica, a pragmática lingüística subordina o dito aosmodos de dizer, privilegiando os implícitos, os subentendidos, em lugar doexplícito, do posto, do conteúdo enunciado.Desse modo, a enunciação pode ser tomada, segundo sua problemáticateórica, a partir de três eixos de reflexão, quais sejam, o questionamento daoposição língua/ fala, a concepção de semântica com que trabalha, e o papel dosujeito (Fuchs: id., 120).Para a autora, o sujeito está sempre presente em tudo, mesmo quando semascara (Fuchs: id., ib.), portanto, não há sentido em separar a língua de seufuncionamento, e mesmo, separar o sujeito da língua - o movimento maisadequado parece consistir, justamente, em superar tais dicotomias.Se por <strong>um</strong> lado Morris (1948) apresenta a pragmática como últimocomponente na relação linear que estabelece entre sintaxe, semântica epragmática, por outro lado, a diferença de concepção entre a noção deenunciação stricto sensu, ou lato sensu, também faz com que sua relação com alíngua ou com a linguagem seja posta em termos distintos.Admitida a concepção de enunciação em sentido largo, essa será aperspectiva que instaura interior/ exterior lingüístico como auto-constitutivos;enquanto, admitir enunciação a partir de <strong>um</strong>a concepção stricto sensu mantém adicotomia relativa à língua, tomando-a enquanto sistema autônomo, a partir doqual as operações enunciativas se instauram para colocar a linguagem emfuncionamento e, com isso, trabalhar para a constituição do sentido.Se considerada <strong>um</strong>a teoria enunciativa pragmaticamente investida, latosensu, a enunciação rompe com a dicotomia interioridade/ exterioridadelingüística, porque questões de ordem pragmática, de fora da língua, relativas aseu uso, vão constituir a língua, estabelecendo <strong>um</strong>a relação de interdependência e25
de constituição mútuas. Nesse caso, a interação e o reconhecimento mútuo dospapéis atribuídos aos interlocutores estão a serviço da produção do sentido.De acordo com Koch (2004: 11), a visão da linguagem como açãointersubjetiva deriva de dois grandes pólos: de <strong>um</strong> lado, a Teoria daEnunciação; de outro lado, a Teoria dos Atos de Fala, a grande responsávelpelo que a Lingüística denomina “virada pragmática”, relativamente aos estudossobre a linguagem.No contexto das <strong>afasias</strong>, a dificuldade de expressar-se é decorrente nãosomente da lesão cerebral, mas também da situação de interlocução - seestabelecida <strong>um</strong>a abordagem da afasia não como <strong>um</strong> problema circunscrito aocérebro lesado, mas também como <strong>um</strong>a questão de linguagem, ou seja, deinteração social mediada por semioses comuns, que garantem ao sujeitoinstanciar-se discursivamente.Estabelecer <strong>um</strong> estudo produtivo a partir de <strong>um</strong>a perspectiva enunciativarequer não ape<strong>nas</strong> estudar quais são as unidades da língua e as relações queestabelecem <strong>nas</strong> operações arg<strong>um</strong>entativas, mas antes, ver de que maneiraessas unidades ass<strong>um</strong>em funções lingüísticas a partir das relações interativasestabelecidas pelos interlocutores. A enunciação aparece então como eixo quearticula a relação entre semântica e pragmática, entre aquilo que é da línguastricto sensu e aquilo que seria relativo a seu exterior discursivo.Aproximar arg<strong>um</strong>entação e enunciação possibilita explorar as relaçõesexistentes entre semântica e pragmática, bem como perscrutar as fronteiras emque se tocam, liame a partir do qual a fluidez da relação interior e exteriorlingüístico é mais <strong>um</strong>a vez posta em evidência.É preciso lembrar que, na interação, os interlocutores manipulam nãosomente ferramentas arg<strong>um</strong>entativas colocadas à disposição pela língua, comotambém <strong>um</strong>a série de regras pragmáticas, discursivas, relativas à suapossibilidade de estabelecimento e de desenvolvimento.Pari passu caminham as operações lingüísticas estabelecidas sobre amaterialidade da língua, e as regras pragmáticas envolvidas na interação. Nessas26
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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ANEXOS
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Informações neuropsicológicas e
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