A competência comunicativa proposta por Hymes está atrelada àssituações de uso efetivo da língua, aos mecanismos de natureza social,determinantes para essa noção de competência.Considerada do ponto de vista da Sociologia, a noção de competência étomada antes como <strong>um</strong> exercício, <strong>um</strong>a prática social, envolvidos na realização derituais sociais – é dessa relação com as práticas sociais que deriva o caráterregulador da competência. A Sociologia busca, assim, compreender o alcanceexplicativo da noção de competência, para tanto, não deixa de reconhecer que anoção é constituída por <strong>um</strong> discurso racionalista, mas que, ao contrário dacompetência lingüística, fundamenta-se muito mais sobre <strong>um</strong>a noção pragmática,que postula a competência enquanto ação coletiva, que sobre <strong>um</strong>a faculdadebiológica inata, que deve ser exibida pelos sujeitos.É necessário, assim, reavaliar se é heuristicamente mais produtivo postulara existência de <strong>um</strong> domínio específico da competência, e a ela atrelar predicaçõesrelativas aos saberes que abrange 24 , ou atribuir aos falantes <strong>um</strong>a capacidadesócio-cognitiva, inter-semiológica, <strong>um</strong> saber-fazer que os torna competentes paraatividades específicas, como, neste estudo, arg<strong>um</strong>entar.Se considerada a primeira perspectiva, será mantida <strong>um</strong>a noção decompetência lingüística, ainda que não seja central em relação às demaiscompetências, e ainda que seja tomada com sentido diferente daqueleespecificado pela teoria gerativa. Entretanto, se considerada a segundaperspectiva, é necessário postular que os indivíduos podem participar deatividades específicas de maneira competente; ou seja, que conjuntamente, <strong>nas</strong>relações sócio-interacionais em que se envolvem, os sujeitos negociam e arbitramsaberes relativos às diferentes exigências da relação sócio-interativa de queparticipam.A competência, assim, é constituída a partir do uso que os sujeitos fazemda língua, situação em que estão submetidos a toda sorte de regras e de leis24 Resta, ainda, estabelecer se a noção de competência lingüística será tomada como eixo em função do qualas demais competências se organizariam, de acordo, por exemplo, com o postulado de Chomsky, ao falar decompetência pragmática e também de Kerbrat-Orecchioni, ou se será considerada <strong>um</strong>a noção de competênciasem que seja estabelecida <strong>um</strong>a relação hierárquica, em que todas noções seriam complementares emutuamente constitutivas.47
gramaticais, discursivas, pragmáticas e sociais, envolvidas <strong>nas</strong> atividades deinteração lingüística.Nesse sentido, não cabe, de <strong>um</strong>a perspectiva sociológica, qualificarcompetência enquanto faculdade inata, mas antes como atributo, derivado dasrelações de práticas sociais, <strong>nas</strong> quais toda ação é regulada e reguladora, por issoavaliativa. As práticas sociais envolvem os sujeitos em interação, e asnegociações nela operadas, que não deixam de mostrar <strong>um</strong> discurso sobre aprópria interação.Para Ogien (2001), a noção de competência utilizada em sociologiadesigna as habilidades demonstradas pelos indivíduos relativamente aoreconhecimento de diferentes mundos de ação – ou modelos de contexto,diferentes frames e scripts (Van Dijk: 1992) – e sua capacidade de adequação aeles. Os sujeitos são considerados competentes por agirem de maneira adequada,por reconhecerem e seguirem adequadamente os rituais sociais postos e impostos<strong>nas</strong> diferentes práticas sociais; ou ainda por sua capacidade de adequação apráticas sociais novas ou desconhecidas a que possam ser submetidos.3.2 Competência e arg<strong>um</strong>entaçãoDe acordo com Castro (2001: 62-63),a depreensão dos fatos da ordem discursiva dá-se pela suarelação com a ordem da língua e reciprocamente. Se não sepode negar que a arg<strong>um</strong>entação é <strong>um</strong>a fala dirigida a <strong>um</strong>outro, não é menos verdade que o valor arg<strong>um</strong>entativo dessetipo de enunciado se constitui no âmbito do texto, [porque é oenunciado que] introduz o falante na sua relação com a línguae as conseqüências que isso acarreta.A autora recupera <strong>um</strong>a citação de Carel e Ducrot (apud Castro: 2004, 64)para mencionar a importância da arg<strong>um</strong>entação diante da tensão com que o textose constitui, que é, o tempo todo, espaço de coesão e de ruptura. Para eles, aarg<strong>um</strong>entação evocaria encadeamentos discursivos, que seriam constituidores de48
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acompanhou até o final de 2002, qu
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