de uso da língua na diversidade de suas situações 13 (Maingueneau e Charaudeau:2002, 113). Segundo os autores, essa noção de competência discursiva deveriaser ainda re-considerada, em função do que se compreende por discursivo, <strong>um</strong>avez que os próprios autores não apresentam <strong>um</strong>a noção de competênciadiscursiva única, pois a contrapõem a outras competências diferentes.Restam ainda questões que preciso abordar, como: quais fenômenosevidenciariam <strong>um</strong>a competência arg<strong>um</strong>entativa? e que elementos, assim como osintrodutores de topoi, no interior da Teoria da Arg<strong>um</strong>entação na Língua, podem ter<strong>um</strong> papel significativo na constituição da arg<strong>um</strong>entação de afásicos? Por essemotivo, a Teoria da Arg<strong>um</strong>entação na Língua tem papel importante em minhasinvestigações, já que aborda a constituição do sentido a partir de <strong>um</strong>a perspectivade arg<strong>um</strong>entação investida enunciativamente.Nesse sentido, o Centro de Convivência de Afásicos, por suas práticasinterativas envolvendo afásicos e não-afásicos, possibilita <strong>um</strong> estudo substantivorelativamente às práticas de linguagem - <strong>um</strong>a vez que as interações que ali se dãoconstituem práticas lingüísticas em que os sujeitos nelas envolvidos exibem suasmais diversas competências (lingüísticas, cognitivas, sociais), para fazer parte dasatividades interativas instauradas. A competência, portanto, é entendida como<strong>um</strong>a prática, de naturezas diversas, e não como <strong>um</strong>a faculdade - recusar a noçãode competência enquanto faculdade implica concebê-la enquanto práticasocialmente constituída.É importante especificar a predicação atrelada à noção de competência, àmedida em que influencia a própria maneira com que a noção de afasia é tomada.Tradicionalmente, a literatura lingüística apresenta a afasia enquantocomprometimento de linguagem relativo às operações de caráter metalingüístico(Morato et alli: 2006a), e a noção de competência (a partir do postuladochomskyano) enquanto faculdade inata, à qual está relacionado o conhecimentogramatical de <strong>um</strong> “falante-ouvinte ideal”.13 pour designer l´aptitude à maîtriser les règles d´usage de la langue dans la diversité des situations(Maingueneau e Charaudeau: 2002, 113).35
Conceber competência dessa forma faz com que não sejam consideradosos saberes cognitivos e subjetivos dos sujeitos com afasia, já que seuconhecimento metalingüístico estaria comprometido – em termos chomskyanos, acompetência não estaria íntegra em <strong>um</strong> sujeito afásico.Para postular que a competência não está perdida nem destruída na afasia,é necessário que seja considerada <strong>um</strong> conhecimento de natureza sócio-cognitiva,o que, por sua vez, possibilita conceber queconsiderando-se a competência relativamente à linguagem apartir de <strong>um</strong>a perspectiva sócio-cognitiva, não a reduzindo a<strong>um</strong>a capacidade metalingüística ou metacognitiva strictosensu, não se pode dizer absolutamente que ela se perde ouse destrói <strong>nas</strong> <strong>afasias</strong>. Pelo contrário, está presente, sereorganiza e se refaz em instâncias interativo-discursivas e nodecorrer de diversas ações psico-sociais <strong>nas</strong> quais seengajam colaborativamente o afásico e seus interlocutores(Morato et alli: 2005a, 04).Atrelar à afasia a noção de competência apresentada por Chomsky implicadizer, de <strong>um</strong> sujeito afásico, que ele não é competente relativamente à língua,portanto, seria necessário dizer que não resta linguagem na afasia. Nessa medida,o CCA, porque propõe variadas dinâmicas interativas, possibilita ao afásico <strong>um</strong>ambiente adequado para mostrar e evocar seus saberes lingüísticos. No CCA, ossujeitos afásicos são, antes de mais nada, convocados a falar, a exibir osrecursos, lingüísticos ou não, de que se valem <strong>nas</strong> práticas discursivas, seja comoutros sujeitos afásicos, seja com sujeitos não-afásicos. Assim, os diferentesprocessos e dinâmicas interativas nele desenvolvidos permitem <strong>um</strong>a abordagemda competência enquanto prática sócio-cognitiva, com conseqüências para aprópria concepção de afasia.É necessário compreender se os sujeitos afásicos se valem de diferentescompetências para dar conta de sua habilidade interativa ou se o sujeito écompetente, no sentido em que desenvolveu socialmente <strong>um</strong>a prática delinguagem, que lhe permite, entre outras coisas, arg<strong>um</strong>entar, mostrar de alg<strong>um</strong>aforma as estratégias arg<strong>um</strong>entativas, lingüísticas ou não, a que recorre.36
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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ANEXOS
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Informações neuropsicológicas e
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acompanhou até o final de 2002, qu
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