especificado. Re-organizo 35acompanhado:abaixo o trecho para que possa ser melhorMG: eu fuiNS: sozinha?MG não...NS: nãoMG: ...eu estava sozinha(...)MG: eu fui(...)MG:...três dias...eu fiz..ex-cor-são*-------* ((indica com o dedos))A auto-correção se dá justamente porque MG percebe que responder não,no contexto enunciativo em que se encontram, e da maneira como NS o toma,orienta, de maneira equivocada, a seqüência arg<strong>um</strong>entativa que objetiva. Dessaforma, MG re-formula sua resposta dizendo eu estava sozinha, com ênfase em eu,em seguida completa sua re-formulação com eu fui (...) ...três dias...eu fiz...ex-corsão.O frame mobilizado por excursão especifica o sentido que MG esperaalcançar, porque possibilita ao interlocutor compreender que MG estava com maispessoas, n<strong>um</strong>a excursão, mas que não fora acompanhada por alguém queestivesse especificamente com ela. O desencontro no estabelecimento de sentido,neste caso, deriva da ambigüidade com que ir sozinha é interpretado.MG equaciona todas as relações seqüenciais estabelecidas inicialmente porET e também por NS, ao dar seqüência às questões que o discurso lhe impõe,quais sejam, ter ido para Bertioga, quanto tempo ficou nesta praia e ainda o fatode ter ido em <strong>um</strong>a excursão, que requer <strong>um</strong>a especificação quanto a como irsozinha deve ser compreendido.O encadeamento arg<strong>um</strong>entativo estabelecido por MG é todo construído pormeio de relações sintático-semânticas marcadas na língua, como a coesão dêiticainstaurada com lá e Bertioga, e também pelo pressuposto marcado no tempoverbal. MG se vale de mecanismos gramaticais sintático-semânticos que a língua35 Depois de outros trechos de conversação, irrelevantes para a análise que estabeleço.57
lhe oferece, mas em nenh<strong>um</strong> momento utiliza unidades funcionais, consideradas,por excelência, os operadores gramaticais que tecem as relações arg<strong>um</strong>entativas.MG compreende a ambigüidade gerada pela resposta dada a NS, quandointerrogada sobre ter ido sozinha ou não para a praia, em Bertioga. Justamenteporque compreende a ambigüidade que produz, re-organiza sua fala. Estareformulação demonstra <strong>um</strong>a competência relacionada à metalinguagem.Nesse sentido, MG exibe <strong>um</strong> saber relativo às relações sintático-semânticase pragmático-enunciativas da língua, que lhe possibilita fazer parte de maneiracompetente da situação interativa. Os recursos não-verbais, como os gestos, osolhares, a indicação de desenhar algo na mesa, a demonstração de quantidaden<strong>um</strong>érica que MG faz com os dedos, juntamente com os recursos verbais,agregam significação à construção discursiva.Cabe relembrar que os recursos não-verbais não são tomados comocomplementares ou alternativos aos verbais, à língua; mas antes, que agenciamem conjunto o uso e funcionamento da linguagem.Para retornar à questão da competência, fica claro que, desde que não sejatomada como <strong>um</strong>a faculdade inata, <strong>um</strong> a priori, os sujeitos envolvidos <strong>nas</strong>situações interativas reconhecem, mobilizam e colocam em funcionamentorecursos relativos ao uso e ao funcionamento da língua. Nesse sentido, de acordocom a especificidade da afasia de cada participante do grupo, bem como deacordo com sua inserção social, letramento e participação <strong>nas</strong> relações interativasdesenvolvidas no CCA, o indivíduo afásico lança mão daquele recurso que melhordomina, ou mesmo que melhor dominava antes da afasia, e que tenha se mantido.A maneira de estar na língua, a questão de valer-se mais de determinadosrecursos que de outros, é <strong>um</strong> trabalho de que também participam os indivíduosnão-afásicos. Entretanto, como já ressaltei, é no contexto das <strong>afasias</strong> que a buscapelos diferentes recursos envolvidos na interação discursiva são postos emevidência, <strong>um</strong>a vez que a própria afasia faz com que os sujeitos afásicos sejamolhados de maneira especial, n<strong>um</strong> espaço em que os falantes reconhecem que alihá algo de específico, de diferente, que marca restrições lingüísticas, e que pode58
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Eliana da Silva TavaresCOMPETÊNCIA
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Ficha catalográfica elaborada pela
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Pedro.Aos amigos do GEAE de Barão
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AbstractMy dissertation is inscribe
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Nesse sentido, os dados de afasia s
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justamente enquanto capacidade do l
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UMA MÃO LAVA A OUTRAFigura 1Fonte: