4. Metodologia e análise de dadosNo trabalho com os dados, valho-me de diferentes possibilidades deanálise, que me permitem perscrutar o papel da língua na arg<strong>um</strong>entação, bemcomo a relação que estabelece com aspectos não-verbais - <strong>um</strong>a vez que a língua,sozinha, não dá conta das diversas operações envolvidas <strong>nas</strong> condutasarg<strong>um</strong>entativas encontradas nos dados.Saliento que os aspectos não-verbais não são, em momento alg<strong>um</strong>,considerados enquanto semioses compensatórias relativamente às restriçõeslingüísticas que a afasia impõe. Contudo, é necessário reconhecer que, nocontexto de linguagem patológica, tais aspectos são enfatizados, porque ainstabilidade de linguagem advinda da afasia ressalta a busca de mecanismos quesustentam a construção arg<strong>um</strong>entativa, para que ela possa alcançar os efeitos desentido esperados.4.1 Apresentação do corpusO corpus 29 em que fiz o recorte dos dados analisados é constituído a partirde encontros semanais, entre sujeitos afásicos e pesquisadores, realizados noCentro de convivência de Afásicos 30 - cujas atividades são coordenadas pelaprofessora Edwiges Morato.Esses encontros são organizados em função de <strong>um</strong> Programa deLinguagem e de <strong>um</strong> Programa de Teatro. Um e outro programas são separadospor <strong>um</strong>a pausa, em que o grupo é chamado a participar de <strong>um</strong> ritual social: apreparação conjunta de <strong>um</strong> café:o grupo faz <strong>um</strong>a pausa de mais ou menos 20 minutos, algoque integra nosso método de trabalho, que consiste em evocaras roti<strong>nas</strong> significativas da vida em sociedade: preparamos29 Em anexo, apresento o sistema de notação que serve de base para a transcrição do corpus do acervo doCCA. Este sistema de notação resulta do projeto FAPESP I.30 No item 1.2, à página 6, o Centro de Convivência de Afásicos (CCA), sua organização e estrutura estádescrito com mais detalhes.51
nosso café, compartilhando as ce<strong>nas</strong> que caracterizam essetipo de prática social: as atividades lingüísticas cotidia<strong>nas</strong>, deonde vão surgindo traços de fortalecimento inter-pessoal, deautoconfiança, de afinidades eletivas entre os membros dogrupo, de consolidação de <strong>um</strong> conhecimento compartilhado(portanto, de <strong>um</strong>a memória com<strong>um</strong>, tipicamente social ecomunitária), etc (Morato: 2002b, 55-56).O grupo é constituído por sujeitos afásicos 31 e também por pesquisadoreslingüistas, fonoaudiólogos e outros, de graduação, mestrado, doutorado e pósdoutorado– todos orientados pela professora Edwiges Morato; e ainda pela atriz ediretora responsável pelo Programa de Teatro.Os encontros são gravados por duas filmadoras, <strong>um</strong>a digital e outraanalógica, e por <strong>um</strong> sistema de captura em fita cassete, através de microfonesincrustados no teto. Tópicos e/ ou observações sobre as atividades desenvolvidassão ainda registrados em <strong>um</strong> caderno de anotações, que fica sob aresponsabilidade de alg<strong>um</strong> pesquisador da equipe.Essas anotações são organizadas em <strong>um</strong> arquivo digitado e acabamservindo como <strong>um</strong> complemento do acervo, porque, em muitas ocasiões, asanotações servem como guia para os pesquisadores constituírem o corpus comque vão trabalhar.O Programa de Linguagem é digitalizado em DVD e transcrito. Assim, ogrupo de pesquisadores pode contar com a imagem, com o áudio gravadotambém em cassete e com a transcrição, que constituem o acervo - o quepossibilita o recorte do dado a partir da avaliação destas diferentes formas decaptura e, sobretudo, da pergunta que orienta o trabalho do pesquisador.Os recursos de que dispõe hoje o acervo permitem, justamente, o estudomais detalhado dos aspectos não-verbais envolvidos <strong>nas</strong> mais diversas situaçõesinterativas de que participam os afásicos, porque são registrados gestos, olhares,formação de sub-grupos, a relação do afásico com os pesquisadores ou com outroafásico, a utilização de recursos como jornais, revistas, agenda ou ainda <strong>um</strong>quadro e <strong>um</strong>a prancheta com folhas para que o afásico possa desenhar ou31 Encaminhados ao Laboratório de Neurolingüística, local que abriga o CCA, pela Faculdade de CiênciasMédicas, que prestou atendimento clínico aos afásicos por ocasião do evento neurológico que os tenhavitimado.52
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Eliana da Silva TavaresCOMPETÊNCIA
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Informações neuropsicológicas e
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acompanhou até o final de 2002, qu
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UMA MÃO LAVA A OUTRAFigura 1Fonte: