meio de <strong>um</strong> protocolo de pesquisa com formulações proverbiais, elaborado porSandra Cazelato 2 . Neste acervo, busco eventos lingüísticos que me possibilitem aanálise de questões relativas à competência e à arg<strong>um</strong>entação, por isso me valhotanto das transcrições dos encontros, quanto das aplicações protocolares.Nessa direção, a questão de fundo para <strong>um</strong>a Neurolingüística que seproponha o estudo da linguagem em uso - ou da linguagem em seufuncionamento - deve passar pela constituição do sentido, dos processos designificação e de compreensão, que não devem ser tomados isoladamente, <strong>um</strong>avez que constituem atividades discursivas indissociáveis. Mesmo porque oprocesso de compreensão envolve <strong>um</strong>a re-construção daquilo que fora dito, e nãocompreendo essa re-construção senão como <strong>um</strong> processo de significação.Os processos de produção e de compreensão da linguagem desvelam asdificuldades dos sujeitos afásicos, mas também a necessidade de reconhecimentode que qualquer atividade simbólica h<strong>um</strong>ana somente pode se dar via garantia dosentido.No contexto das <strong>afasias</strong> - caracterizadas tradicionalmente pela literaturalingüística como <strong>um</strong> comprometimento de linguagem relativo, sobretudo, a seucaráter metalingüístico - diferentes operações com a língua estão implicadas e sãoconvocadas para que o afásico possa assegurar sua participação no jogodiscursivo - assimétrico por natureza; é necessário “driblar”, de maneiracompetente, as dificuldades que o comprometimento de linguagem, imposto pelaafasia, lhe apresenta.Não há, portanto, possibilidades de admitir <strong>um</strong>a concepção de linguagemexterior ao indivíduo. Caso contrário, estaria intimada a admitir que a instabilidadeda língua, provocada pela afasia, de fato, excluiria o afásico das interaçõesdiscursivas. Antes, mostra-se mais produtivo e explicativo teoricamente evocarmais <strong>um</strong>a vez Benveniste, para quem2 Agradeço a Sandra Cazelato a possibilidade de utilizar os dados do protocolo de entrevistas sobreenunciações proverbiais com sujeitos afásicos, elaborados para sua pesquisa de mestrado (Cazelato: 2003), ede sua iniciação científica (Cazelato: 1998).7
a linguagem está na natureza do homem, que não a fabricou.(...) Não atingimos nunca o homem separado da linguagem enão o vemos nunca inventando-a. Não atingimos nunca ohomem reduzido a si mesmo e procurando conceber aexistência do outro. É <strong>um</strong> homem falando que encontramos nomundo, <strong>um</strong> homem falando com outro homem, e a linguagemensina a própria definição do homem (Benveniste: 1995, 285)[grifo meu].Se por <strong>um</strong> lado não é possível negar a afasia e as restrições lingüísticas ediscursivas por ela impostas, por outro lado resta justamente buscar, frente aessas contingências, o agenciamento - operado pelo sujeito afásico, relativo àsdiferentes semioses de que se vale, bem como os movimentos e as atitudespragmáticas envolvidos na resolução de problemas de ordem lingüística, naintenção de dar conta de sua participação em atividades discursivas; em outraspalavras, buscar saber de que maneira o sujeito manipula os recursos lingüísticos(formais ou não-formais), de que dispõe no interior da situação enunciativa.Essa interrogação tem por objetivo não somente perscrutar que categoriaslingüísticas o afásico manipula, mas, mais que isso, saber de que recursos lançamão na tentativa de instanciar-se no discurso, justamente quando a língua, strictosensu, lhe impõe restrições das mais diversas naturezas – restrições essas queestão na base, por exemplo, da classificação dos diferentes tipos de afasia.Frente a este quadro, é preciso estabelecer que minhas questões somentepodem ser formuladas porque fundamentadas na premissa de <strong>um</strong> sujeito afásicocompetente, que lança mão de recursos vários para se manter na interação.As <strong>afasias</strong>, além de descortinarem as dificuldades lingüísticas com quelidamos, afásicos ou não, também explicitam nossas dificuldades discursivas, oque possibilita entrever a busca de recursos formais específicos, entendidos comoa materialidade lingüística propriamente dita, e ainda os recursos semiológicosdas mais diversas naturezas, de que nos valemos para nos constituirmos nalinguagem.Se o escopo de minha tese restringe-se à possibilidade de postular <strong>um</strong>arelação entre arg<strong>um</strong>entação e competência, cabe questionar de que recursos sevalem os sujeitos afásicos para equacionar as operações arg<strong>um</strong>entativas, se8
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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Informações neuropsicológicas e
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UMA MÃO LAVA A OUTRAFigura 1Fonte: