considerações de Chomsky demonstra a inquietação, provocada na comunidadelingüística, pelo postulado de <strong>um</strong>a competência de domínio da lingüística, relativaa <strong>um</strong> conhecimento inato da língua (que deixa de lado questões que impliquemsua utilização, a subjetividade e o estabelecimento de sentido). É nesse panoramaque surge o famoso exemplo chomskyano, colorless green ideas sleep furiously,para demonstrar a diferença entre os conceitos de gramaticalidade e deaceitabilidade.Hymes (id.: 120), ao retomar e referir toda sua produção lingüística, desdeos anos 50, apresenta dois arg<strong>um</strong>entos para sustentar o aparecimento daexpressão competência de comunicação, como <strong>um</strong>a primeira contraposiçãoàquela noção de competência postulada por Chomsky. Esses arg<strong>um</strong>entos teriamorigens distintas, mas acabam por se imbricar.O primeiro arg<strong>um</strong>ento seria justamente aquele de contraposição à noção decompetência lingüística apresentada por Chomsky, enquanto o segundo estariavinculado às pesquisas em etnografia da comunicação, com a qual o autor vinhase envolvendo cada vez mais. O imbricamento dessas noções se daria por meiode <strong>um</strong> ponto com<strong>um</strong>, qual seja, a capacidade de utilização de <strong>um</strong>a língua.Hymes (1984) retoma <strong>um</strong> texto de 1962, em que apresenta a noção deetnografia da fala, com o propósito de estabelecer relação entre língua e cultura,buscando chamar atenção para a necessidade de respeitar as implicaçõesteóricas advindas de <strong>um</strong> estudo com tal natureza. O autor aponta, ainda,abstrações equivocadas dessa relação, que estudavam, de <strong>um</strong> lado, a língua tãosomente enquanto gramática (como a proposta de competência lingüística), e deoutro a análise cultural, como objetos totalmente distintos, livres de implicaçõesmútuas.Com isso, Hymes apresenta <strong>um</strong> novo enfoque, que teria por objeto oestudo da organização da fala no interior de comunidades específicas,considerando questões etnográficas como determinantes para a organização dafala dos sujeitos dessas comunidades.Surge, assim, a primeira predicação relativamente à competência, com ointuito de se contrapor à noção de competência lingüística chomskyana. Hymes39
lembra, contudo, que a expressão competência de comunicação é introduzida nouso geral sem que seja necessário atribuí-la a <strong>um</strong> autor particular, mas lembraainda que as citações feitas pelos lingüistas geralmente fazem referência a suaspublicações, e, mais freqüentemente, ao texto Vers la compétence linguistique, de1973 16 .Hymes chama atenção, também, para o quanto a noção de competência decomunicação utilizada é empregada de maneira vasta e variada, ou seja, muitopouco específica e controlada teoricamente, exemplificando a questão com ostrabalhos de Campbell e Wales (1970), que se valem dessa competência parareferir o estudo da aquisição de linguagem (assim como Slobin, G<strong>um</strong>perz e tantosoutros). Para Hymes, competência de comunicação passa a ser utilizada paralelae independentemente, por paradoxal que possa parecer, no domínio deaprendizagem e de ensino de línguas, culminando com a utilização feita hoje pelaLingüística Aplicada.Nesse sentido, Paulston (1974/ 79 apud Hymes: 1984) propõe que a noçãode competência de comunicação teria dois sentidos diferentes: <strong>um</strong> primeiro seriaaquele de que se valem os trabalhos com o ensino de língua estrangeira nos EUA,que a utilizam para designar <strong>um</strong>a capacidade do indivíduo de entrar em interaçãoespontânea na língua alvo. Um segundo sentido seria aquele utilizado pelaspessoas que trabalham com inglês como segunda língua, que tendem a se valerde competência de comunicação no sentido mais estritamente proposto porHymes, considerando não somente as formas lingüísticas, mas também suasregras sociais, como saber quando, como e com quem seria apropriado utilizarcertas formas.A questão res<strong>um</strong>e-se, para Hymes, no fato de que diferentes autorespassam a falar não mais em capacidade ou hábito de utilização da língua, mas emcompetência, justamente para contraporem-se a Chomsky e alargar o sentido dapalavra e, conseqüentemente, o de língua e de gramática por ela implicados.16 Texto que originou Vers la compétence de communication, de 1984.40
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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ANEXOS
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Informações neuropsicológicas e
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acompanhou até o final de 2002, qu
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UMA MÃO LAVA A OUTRAFigura 1Fonte: