arg<strong>um</strong>entação clássica passa a ser considerada somente em textos religiosos.Pensar a arg<strong>um</strong>entação a partir de cálculos de valor de verdade faz com que suanatureza discursiva seja deixada de lado, em função de <strong>um</strong>a primazia racionalista,fundamentada n<strong>um</strong>a lógica vericondicional.No pós-guerra, surgem duas obras que reestabelecem a retórica e reafirmamsua relação com a arg<strong>um</strong>entação: são os trabalhos de Chaïm Perelman eLucie Olbrechts-Tyteca (1996), com seu Tratado de Arg<strong>um</strong>entação, e de StephenToulmin, com seu The Uses of arg<strong>um</strong>ents (1958).Perelman e Tyteca (id.) questionam o declínio da arg<strong>um</strong>entação retórica,pois criticam em Descartes os fundamentos do pensamento racional, cujaevidência é a marca da razão, eliminando qualquer possibilidade de consideraropiniões e desacordos, de modo que o traço necessário é evidenciado, <strong>um</strong>a vezque <strong>um</strong>a Ciência Racional, fruto de <strong>um</strong> pensamento racionalista, devefundamentar-se em proposições necessárias e evidentes, características dosistema dedutivo.Assim, questionam a concepção de razão cartesiana, pois retomam aretórica grega e romana, alicerçadas na arte de bem falar, de modo a persuadir econvencer, estabelecendo que a persuasão pode advir do verossímil e da opinião,o que os leva também a reagir contra a identificação entre Lógica e Lógica Formalou Matemática, estabelecida pelo racionalismo, porque esta consiste em autorizaras conclusões com base em premissas inferíveis a partir de regras formuladaspreviamente, reduzindo a demonstração a <strong>um</strong> cálculo formal. Para Perelman eTyteca (id: 04):é a idéia de evidência, como característica da razão, quec<strong>um</strong>pre criticar, se quisermos deixar espaço para <strong>um</strong>a teoriada arg<strong>um</strong>entação que admita o uso da razão para dirigir nossaação e para influenciar a dos outros. A evidência é concebida,ao mesmo tempo, como a força à qual toda mente normal temque ceder e como sinal de verdade daquilo que se impõe porser evidente. A evidência ligaria o psicológico ao lógico epermitiria passar de <strong>um</strong> desses planos para o outro.Para Perelman, arg<strong>um</strong>entar consiste em fornecer arg<strong>um</strong>entos, ou seja,razões a favor ou contra <strong>um</strong>a determinada tese (Perelman: 1987, 234), por isso o17
objeto da Nova Retórica consiste no estudo de técnicas discursivas que permitamprovocar ou ampliar a adesão às teses que se apresentam ao assentimento doauditório (Perelman & Tyteca: 1996, 05).Os autores (id.: ib., 07) propõem-se abordar também o que chamam dediscussão com <strong>um</strong> único interlocutor ou deliberação íntima, fazendo com que anoção de arg<strong>um</strong>entação abordada n´A Nova Retórica seja ampliada em relaçãoàquela formulada por Aristóteles. Assim, se valem das expressões estabelecidaspelo autor da Retórica, ajustando-as às necessidades de desenvolvimento dotexto proposto; com isso, re-categorizam discurso como arg<strong>um</strong>entação. Ainda comrelação à Retórica clássica, os autores se propõem a abordá-la sob a ótica dePlatão, para quem a importância dos recursos discursivos deveria sobressairrelativamente às rápidas conclusões ou ao fácil convencimento de auditóriosignorantes, tendo em vista que Perelman e Tyteca (id.: 09) interessam-se menospelo desenrolar completo de <strong>um</strong> debate do que pelos esquemas arg<strong>um</strong>entativosempregados.Contrariamente à perspectiva clássica de Aristóteles, A Nova Retórica nãose propõe à formação de oradores eloqüentes e por isso não se restringe aodiscurso oral; antes enfatiza mais o texto escrito, justamente por sua importânciana sociedade contemporânea, buscando sobretudo analisar a organização comque a estrutura arg<strong>um</strong>entativa mesma se constitui. Entretanto, comunga com atradição, que é em função de <strong>um</strong> auditório que qualquer arg<strong>um</strong>entação sedesenvolve (Perelman & Tyteca: id., 06), pois o contato entre o orador e seuauditório não concerne unicamente às condições prévias da arg<strong>um</strong>entação: éessencial também para todo o desenvolvimento dela (id.: ib., 21), é precisoconsiderar tal auditório como determinante da linha arg<strong>um</strong>entativa a serdesenvolvida.Por sua vez, a obra de Toulmin busca colocar as bases de <strong>um</strong>a lógica dodiscurso ou preferencialmente de <strong>um</strong>a racionalidade de <strong>um</strong> logos discursivo 10(Plantin: 2005, 04). Para o autor, a arg<strong>um</strong>entação consiste n<strong>um</strong>a constelação deenunciados sistematicamente ligados, de onde o discurso retira sua coerência10 cherche à poser les bases d’une logique du discours, ou plutôt d’une rationalité d’un logos discursif18
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seu eixo, cabendo então questionar
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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ANEXOS
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Informações neuropsicológicas e
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4. EFSexo: masculinoData de nascime
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acompanhou até o final de 2002, qu
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UMA MÃO LAVA A OUTRAFigura 1Fonte: