operações, os sujeitos são chamados a jogar o jogo, a aderir às regras que osdiferentes gêneros lingüísticos estabelecem nos espaços de interação.Procuro alocar minhas questões sobre arg<strong>um</strong>entação justamente nesteespaço de relação ente linguagem e discurso, sempre com vistas a perscrutar qualo papel das relações arg<strong>um</strong>entativas para a constituição da significação, semdeixar de considerar o caráter normativo envolvido na produção do sentido.Esse caráter normativo está ligado à obediência de regras lingüísticas,como as noções chomskya<strong>nas</strong> de boa formação gramatical e de aceitabilidade, eainda às regras pragmáticas, como as noções de leis discursivas, relacionadas àcooperação entre os interlocutores e à relevância conversacional - ou àquelasrelacionadas aos implícitos, aos inter-enunciados, à polifonia, à performatividadeda língua (o que se diz e os efeitos que o dizer produzem). Há ainda que observarnoções semânticas como acarretamento e inferência, estabelecidas com base <strong>nas</strong>noções de contexto, relativo à situação enunciativa, e cotexto, relativo às marcastextuais.A abordagem enunciativa, aqui proposta, ancora-se no postulado de que asignificação não é somente signo, mas antes enunciação, quer seja entendidaenquanto categoria de representação da língua, quer seja tomada enquantoprocesso, como nos estudos de Ducrot, em que a situação enunciativa éresponsável pela constituição dos inter-enunciados e dos implícitos.A enunciação está ligada ao momento de proferimento do enunciado,conseqüentemente, ao contexto de produção; contudo, é importante não tomarcontexto de produção como elemento que constitui <strong>um</strong>a relação de figura e fundo,em que o enunciado seria a unidade central, a figura, e o contexto seriaestabelecido como fundo, como a paisagem onde <strong>um</strong>a cena se desenvolve. Antes,a relação deve ser pensada nos termos em que Ducrot a coloca, para quem aenunciação credita informações a respeito do enunciado.Somente dessa forma a enunciação toma relevo e pode servir como aportepara o postulado de <strong>um</strong>a Lingüística Pragmática, sob a qual estariam abrigados osestudos relativos à dimensão discursiva da linguagem. Por isso que postular aenunciação enquanto categoria orientada pragmaticamente implica considerar que27
o estudo do sentido deve levar em conta suas condições de produção, ou ainda,que no sentido do enunciado está contida a enunciação.A semântica que faz Ducrot atrela a enunciação ao evento histórico eparticular responsável pelo aparecimento de <strong>um</strong> enunciado, enquanto o enunciado(que constitui <strong>um</strong> discurso mínimo, <strong>um</strong>a unidade mínima de análise) correspondeà ocorrência particular de <strong>um</strong>a frase. Com esse movimento, o pragma é alocadono interior da língua, em suas relações de significação mais básicas - por meio demecanismos gramaticais constituídos pelos operadores e conectivosarg<strong>um</strong>entativos, pelas marcações morfo-sintáticas que sustentam a pressuposiçãoe pelas unidades introdutoras de topoi (e mesmo pelos topoi lexicais, em que apredicação topoi intrínseco e extrínseco implica operações enunciativasestabelecidas com base <strong>nas</strong> marcas de significação atreladas ao léxico a partir daenunciação).A Lingüística Textual e a Análise da Conversação, porém, têm <strong>um</strong> carátermais pragmático-discursivo, ao se valerem, por exemplo, da Teoria dos Atos deFala e das Máximas Conversacionais, para ancorarem o pragma como elementoexterior à língua, responsável por seu funcionamento discursivo.Com base na enunciação, a linguagem é duplamente circunstanciada, querpelas relações dêiticas, espaciais e temporais, quer pela subjetividade, por meiodas funções e papéis ass<strong>um</strong>idos e atribuídos aos interlocutores.A linguagem, ao ser circunstanciada pela enunciação, não o faz ape<strong>nas</strong> emfunção da colocação do enunciado em <strong>um</strong> contexto discursivo, mas sim em funçãoda subjetividade, também atrelada às relações dêiticas - porque não existe <strong>um</strong>aqui/ agora, <strong>um</strong> presente e passado que se estabeleçam com base n<strong>um</strong>aenunciação que não considere a subjetividade na língua, fundamentada na figurados interlocutores envolvidos na situação enunciativa.São as categorias enunciação e interação que orientam o funcionamentoda língua, as relações operadas pelos sujeitos no exercício de seu uso; operaçõesessas que convergem para o discurso, e, portanto, para todos os efeitos desentido passíveis de constituição quando a língua é colocada em funcionamento.28
- Page 1 and 2: Eliana da Silva TavaresCOMPETÊNCIA
- Page 3: Ficha catalográfica elaborada pela
- Page 7 and 8: Pedro.Aos amigos do GEAE de Barão
- Page 9 and 10: Índice1. Apresentação do problem
- Page 11 and 12: AbstractMy dissertation is inscribe
- Page 13 and 14: Nesse sentido, os dados de afasia s
- Page 15 and 16: justamente enquanto capacidade do l
- Page 17 and 18: linguagem ordinária a partir da co
- Page 19 and 20: a linguagem está na natureza do ho
- Page 21 and 22: manobra ducrotiana está a serviço
- Page 23 and 24: 2. ArgumentaçãoNeste capítulo, r
- Page 25 and 26: Platão provoca uma ruptura entre r
- Page 27 and 28: A Lógica dos predicados está vinc
- Page 29: objeto da Nova Retórica consiste n
- Page 33 and 34: suas intenções discursivas e toda
- Page 35 and 36: linguagem, na performatividade da l
- Page 37: de constituição mútuas. Nesse ca
- Page 41 and 42: Nesse sentido, as qualidades intera
- Page 43 and 44: 3. CompetênciaMinha questão neste
- Page 45 and 46: elativamente a categorias como enun
- Page 47 and 48: Conceber competência dessa forma f
- Page 49 and 50: frases gramaticalmente bem-formadas
- Page 51 and 52: lembra, contudo, que a expressão c
- Page 53 and 54: Essas duas primeiras competências
- Page 55 and 56: hierárquica, o que, mais uma vez,
- Page 57 and 58: natureza sócio-cognitiva, e ainda
- Page 59 and 60: gramaticais, discursivas, pragmáti
- Page 61 and 62: Argumentar, enfim, é algo que a l
- Page 63 and 64: nosso café, compartilhando as cena
- Page 65 and 66: convocam o locutor/ interlocutor a
- Page 67 and 68: ET: nossa... eu quero muito conhece
- Page 69 and 70: lhe oferece, mas em nenhum momento
- Page 71 and 72: Nesta interação, o desenho de uma
- Page 73 and 74: EM: gente... uma coisa é... o seu
- Page 75 and 76: MS: a::h ((fazendo sinal de assenti
- Page 77 and 78: neta e que seu nome é o mesmo de u
- Page 79 and 80: somente para a expressão oral, mas
- Page 81 and 82: JT: tão achando que é o ETA simSP
- Page 83 and 84: unidade lexical vaga: evento. Em se
- Page 85 and 86: Ducrot e colaboradores propõem-se
- Page 87 and 88: Estabelecer a materialidade lingü
- Page 89 and 90:
enunciados modificados pelos operad
- Page 91 and 92:
necessárias, fazendo com que se to
- Page 93 and 94:
eu achei é-é-é eu achei um-um-um
- Page 95 and 96:
elativamente a enciclopédia boa pr
- Page 97 and 98:
seu eixo, cabendo então questionar
- Page 99 and 100:
Na Semântica ducrotiana, argumenta
- Page 101 and 102:
5. Considerações finaisA abordage
- Page 103 and 104:
intersubjetividade, faz com que ess
- Page 105 and 106:
6. Referências BibliográficasAMOS
- Page 107 and 108:
GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
- Page 109 and 110:
_____. "Semântica e Argumentação
- Page 111 and 112:
ANEXOS
- Page 113 and 114:
Informações neuropsicológicas e
- Page 115 and 116:
4. EFSexo: masculinoData de nascime
- Page 117 and 118:
acompanhou até o final de 2002, qu
- Page 119:
UMA MÃO LAVA A OUTRAFigura 1Fonte: