que se dirige e, desde seu início, estabelece toda sorte de participação e tambémde segregação que o domínio do discurso vai exercer na cultura ocidental.Assim, a literatura ocidental, a partir da influência grega, apresenta duasreferências iniciais à retórica, <strong>um</strong>a que a atribui a Córax e Tísias e outra que aatribui a Heródoto, ambas relativas ao século V a.c.. Ressalto a importância deCórax e Tísias, responsáveis pela organização do primeiro “Tratado deArg<strong>um</strong>entação”, que consistia na organização de <strong>um</strong> método racional para falaradequadamente diante de <strong>um</strong> tribunal, por apontar o funcionamento de <strong>um</strong>a 3operação maior da arg<strong>um</strong>entação: a retomada de <strong>um</strong> discurso por <strong>um</strong> outrodiscurso; tudo o que é feito por palavras pode ser desfeito pelas palavras 4 (Plantin:1996, 05).A retórica é, então, sistematizada para que possa servir de instr<strong>um</strong>ento aosgregos que defendiam o restabelecimento de suas terras, após a invasão deterritórios gregos por sicilianos. Assim, surge, no interior de questõesdemocráticas (e demagógicas 5 ), normatizada pelo poder judiciário, e tambémpolítico - em que a eloqüência consistia no melhor atributo de convencimento.Através dos Sofistas, sobretudo na figura de Górgias, destacado por suaeloqüência como orador, a retórica, e com ela a arg<strong>um</strong>entação, que está em suabase, é levada para Ate<strong>nas</strong>, como <strong>um</strong>a hábil técnica jurídica que servia paraconvencer tanto do falso quanto do verdadeiro.Com os Sofistas, a retórica domina a Filosofia, em que se pretendia <strong>um</strong>aarte, por meio da qual seria possível persuadir e provar quaisquer coisas,independentemente de sua veracidade, <strong>um</strong>a vez que nessa concepção osarg<strong>um</strong>entos não tinham necessidade de ser verdadeiros; sua baliza consistia emopiniões verossímeis, variáveis entre os indivíduos e as cidades. A melhor opiniãoseria aquela que obtivesse a adesão do auditório a que era dirigida, por meio dafigura do orador: novamente a eloqüência é posta em relevo.3 Ao longo desta tese, traduzo as citações em francês no corpo do texto, e as mantenho na língua original emnota de rodapé.4 opération majeure de l’arg<strong>um</strong>entation: le retournement d’un discours par un autre discours; tout ce qui estfait par des mots peut être défait par les mot (Plantin: 1996, 05).5 De acordo com Barthes (1975: 150).13
Platão provoca <strong>um</strong>a ruptura entre retórica e Filosofia, porque não podiaadmitir a retórica de Górgias como arte ou como Filosofia, mas é Aristóteles quemreabilita a retórica e procede à delimitação de seu domínio, bem como a tentativade sistematizar e hierarquizar esse saber.Assim, segundo Aristóteles, a Metafísica e as Ciências tratariam donecessário e das proposições indubitáveis; a Dialética diria respeito ao provável -e teria por método a arg<strong>um</strong>entação contraditória e a síntese de opiniões; enquantoa retórica visaria persuadir, por meio de verossimilhança - e não de arg<strong>um</strong>entosverdadeiros, necessários ou prováveis. Com esse movimento, Aristóteles garante,na hierarquia que estabelece, lugar privilegiado para o verdadeiro – abrigado naFilosofia - enquanto relega à Dialética e à Retórica questões não-lógicas, deraciocínios não-necessários - no sentido lógico da expressão.A arg<strong>um</strong>entação está, ainda, na base da divisão estabelecida porAristóteles para os três gêneros de discurso que apresenta, cuja diferença deconcepção está diretamente ligada à hierarquia estabelecida quanto a esse saber.Aristóteles reserva ao gênero judiciário o lugar do justo, entenda-se do verdadeiro,em que a concepção de arg<strong>um</strong>entação dominante é o entimema.No gênero deliberativo, a arg<strong>um</strong>entação é construída a partir de fatos reaisou fictícios, que permitem a indução ou o raciocínio por analogia; e finalmente, nogênero epidídico, a arg<strong>um</strong>entação é constituída sobretudo por meio de figurascomo hipérbole, repetição e metáfora, <strong>um</strong>a vez que visa a ampliar a força dosarg<strong>um</strong>entos, no intuito de exaltar ou diminuir pessoas ou eventos.Os três gêneros discursivos são: o deliberativo – aquele que surgiu com anecessidade de deliberação relativa às demandas dos proprietários de terras eque procura persuadir o auditório -; o judiciário – aquele que acusa ou defende –e, por fim, o epidídico – aquele que busca o elogio ou a censura, que foi o gêneromais desenvolvido pelos sofistas -.Cada gênero discursivo, por sua vez, está relacionado a <strong>um</strong> determinadotipo de auditório e à sua função, quer seja julgar, deliberar ou usufruir, comoespectador, do jogo instaurado pelo movimento oratório.14
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intersubjetividade, faz com que ess
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6. Referências BibliográficasAMOS
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GUILLAUME, G. Temps et verbe. Paris
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Informações neuropsicológicas e
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