12.07.2015 Views

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

109família <strong>de</strong> quatro pessoas po<strong>de</strong> se sustentar com menos <strong>de</strong> um salá<strong>rio</strong>mínimo? 72Mesmo com uma renda média mensal aproximada <strong>de</strong> R$ 420,00 porunida<strong>de</strong> <strong>do</strong>méstica, a sobrevivência das empregadas que entrevistei só épossível porque usam muito pouco dinheiro para aten<strong>de</strong>r às suasnecessida<strong>de</strong>s básicas: Emem, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>do</strong>is meses, já havia consegui<strong>do</strong> naAssociação <strong>de</strong> Mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong>is sacos <strong>de</strong> cimento para concluir o piso <strong>do</strong>squartos <strong>do</strong> barraco. Terezinha passa no mercadinho da frente <strong>de</strong> sua casa, nofinal <strong>do</strong> dia, para ganhar os restos <strong>de</strong> verdura que comporão a comida dasgalinhas; Túlia, como a maioria <strong>de</strong> suas vizinhas, troca vales-transporte (queganha no serviço) por leite, pão, verduras... Edilene explica que troca itensque exce<strong>de</strong>m da cesta básica por outros mais necessá<strong>rio</strong>s com a <strong>do</strong>na <strong>do</strong>supermerca<strong>do</strong> <strong>do</strong> bairro. No meio <strong>de</strong>sta economia <strong>de</strong> troca, os patrões<strong>de</strong>sempenham um papel fundamental, não somente para a empregada, maspara toda a re<strong>de</strong> familiar <strong>de</strong>la. Túlia recebeu uma sacola <strong>de</strong> roupas da patroada cunhada; Emília pediu para a patroa da tia uma mochila para sua filha.Como viver com tão pouco e ainda conseguir construir, comprar “tanquinho” esom para a casa sem contar com as sobras das classes abastadas? E quemaneira melhor para ter acesso a estas sobras <strong>do</strong> que passan<strong>do</strong> pela patroa<strong>de</strong> alguém?Coisas que não farão falta na casa <strong>do</strong>s patrões po<strong>de</strong>m assumir outravida na casa das empregadas. O <strong>de</strong>scarta<strong>do</strong> sofre uma atualização no novoambiente. Um abajur quebra<strong>do</strong> po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> vaso, uma roupa manchadapo<strong>de</strong> ser usada para as crianças brincarem no quintal, um sutiã velho po<strong>de</strong>servir mais uns anos para quem não gasta com aquilo que não aparece. Nareutilização que fazem <strong>de</strong> coisas inúteis para os patrões, as empregadas<strong>do</strong>mésticas atribuem uma outra dimensão para o consumo. As coisasadquirem vida mais longa. Não se jogam coisas fora. Não é somente pormiséria que se continua usan<strong>do</strong> a ca<strong>de</strong>ira sem encosto, mas sim porque elaainda serve para sentar. Apesar <strong>de</strong> ter compra<strong>do</strong> um álbum <strong>de</strong> fotografias72 Os da<strong>do</strong>s são <strong>de</strong> 1996.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!