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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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93Uma rápida digressão pela literatura sobre família em grupos popularesnos ajuda a colocar essas atitu<strong>de</strong>s em perspectiva. Analisan<strong>do</strong> a lógica da“circulação <strong>de</strong> crianças”, Claudia Fonseca (1995) levanta a hipótese <strong>de</strong> uma‘coletivização’ <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s maternas para com as crianças <strong>do</strong>sgrupos populares 60 . Conforme essa noção, surgem vínculos fortes entrecrianças e as mães <strong>de</strong> criação (avós, madrinhas, vizinhas) que cuidam <strong>de</strong>las.Não é difícil imaginar como, <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista da empregada, esse tipo <strong>de</strong>vínculo também se crie com os filhos <strong>de</strong> sua patroa. Possivelmente, por suatradição cultural <strong>de</strong> não conceber a maternida<strong>de</strong> apenas como atribuição dagenetriz, as empregadas se entreguem tão facilmente a crianças que sabemtemporárias em suas vidas.Nesse contexto, uma mudança <strong>de</strong> emprego po<strong>de</strong> significar uma enormeperda afetiva. Edilene, por exemplo, caiu em <strong>de</strong>pressão <strong>de</strong>pois que seus expatrõesse mudaram <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. A atual patroa chegou a ligar para a ante<strong>rio</strong>r(são amigas) sugerin<strong>do</strong> que a empregada pu<strong>de</strong>sse ir conhecer o lugar on<strong>de</strong>as crianças estavam instaladas para que, talvez assim, pu<strong>de</strong>sse sofrer menoscom a separação. De fato, muitas vezes, o motivo para uma empregadaagüentar um serviço mal pago é a dificulda<strong>de</strong> em se separar das crianças dasquais toma conta.Há sinais semelhantes <strong>do</strong> apego <strong>de</strong> crianças pelas “suas” empregadas.Uma patroa, por exemplo, nos relatou como o filho a<strong>do</strong>eceu quan<strong>do</strong> o mari<strong>do</strong><strong>de</strong> Arlete, sua empregada, obrigou-a a <strong>de</strong>ixar o emprego. Ouvi variantes<strong>de</strong>sse tema em inúmeros outros relatos, sublinhan<strong>do</strong> uma intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong>contato que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter conseqüências importantes.Se, como vimos nos discursos sobre limpeza, os patrões adultos sãoimpermeáveis ao universo cultural das empregadas <strong>do</strong>mésticas, o mesmo nãoacontece com as crianças. Elas dialogam com as empregadas, ouvem suashistórias, escutam a mesma música no radinho <strong>de</strong> pilha da cozinha,60 Colen (1995) mostra um senti<strong>do</strong> semelhante <strong>de</strong> maternida<strong>de</strong> vivenciada pelos caribenhosque se expressa na prática da fosterage.

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