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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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163que se eu não tenho capacida<strong>de</strong> para manter um mari<strong>do</strong>, como vou po<strong>de</strong>rcriar uma criança?”(Com esse episódio, minhas dúvidas quanto ao “mun<strong>do</strong>cultural” <strong>de</strong> Dona Edilene só aumentavam: além <strong>de</strong> sofrer a violência <strong>do</strong>mari<strong>do</strong>, agora ia ser privada <strong>de</strong>ste último prazer, <strong>de</strong> ter um filho… Foi sóalgum tempo <strong>de</strong>pois que fui apren<strong>de</strong>r coisas para atenuar minha indignação, eatiçar mais uma vez o estranhamento <strong>do</strong> antropólogo.)Quis o <strong>de</strong>stino que uma situação <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença me fizesse recorrer à únicapessoa com quem podia contar em Vitória (meu mari<strong>do</strong> estava viajan<strong>do</strong>) e,assim, fui a Jardim Veneza buscar Edilene. Não sabia exatamente on<strong>de</strong> erasua casa e fui perguntan<strong>do</strong>: ”Conhece Edilene, amiga <strong>de</strong> Túlia…” Ante asnegativas resolvi associar: “Ela foi casada muito tempo com Tonho, filho <strong>de</strong>Claudina…” No que a pessoa me respon<strong>de</strong>u: ”Foi casada? Nunca esteveseparada! Eles moram ali...” De fato, Ariadne me contava muitas mentiras,muitas! Mas não eram quaisquer mentiras: eram mentiras <strong>de</strong> mulher pobrepara uma mulher <strong>de</strong> classe média. Assim, vim a me dar conta que Edilenenunca havia se separa<strong>do</strong> <strong>de</strong> Tonho. Durante meses tinha encena<strong>do</strong> um tipo<strong>de</strong> teatro para satisfazer as sensibilida<strong>de</strong>s da patroa 97 .Não é por acaso que Edilene resolveu escon<strong>de</strong>r justamente essadimensão <strong>de</strong> sua vida privada – suas relações afetivas – <strong>do</strong>s olhos moralistas<strong>de</strong> sua patroa. Goldstein (2000), entre outros, tem escrito sobre a maneiracomo patroas censuram a vida pessoal <strong>de</strong> suas <strong>do</strong>mésticas, chegan<strong>do</strong> àconclusão <strong>de</strong> que, na maioria <strong>de</strong> casos, estas estariam melhores selargassem tu<strong>do</strong> e mudassem <strong>de</strong> vez para a casa <strong>de</strong>las. Assim, chegan<strong>do</strong> nobairro, prestei atenção particular a esses <strong>de</strong>talhes.97 Detalhe: minha filha, então com quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sabia <strong>de</strong> toda a verda<strong>de</strong>. Somentequan<strong>do</strong> eu cheguei em casa contan<strong>do</strong> a peripécia, a menina traiu seu pacto <strong>de</strong> segre<strong>do</strong> comEdilene. Neste caso, percebe-se a relação <strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong> e afeto entre as crianças e asempregadas que mostramos no capítulo <strong>do</strong>is.

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