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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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166* * *Nestes relatos sobre a inter<strong>de</strong>pendência no grupo <strong>do</strong>méstico,procuramos <strong>de</strong>screver um padrão <strong>de</strong> organização social importante entre osgrupos populares. Como Duarte (1986) e Sarti (1989), observamos a presença<strong>do</strong> código hierárquico complementar que liga mari<strong>do</strong> e mulher nestascamadas sociais. No entanto, este código não é nem estático, nem postulacomportamentos <strong>de</strong> maneira tão rígida como a regra prescreve.Em primeiro lugar, <strong>de</strong>veríamos compreen<strong>de</strong>r que, no caso pesquisa<strong>do</strong>, aposição supe<strong>rio</strong>r masculina não se sustenta necessariamente pela suacondição <strong>de</strong> prove<strong>do</strong>r – situação que é difícil <strong>de</strong> ser cumprida, como<strong>de</strong>monstra as histórias <strong>de</strong> Tonho, Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> e Vinicius. Outros fatores, taiscomo a escolha patrilocal <strong>de</strong> moradia, po<strong>de</strong>m também ajudar os homens amanterem-se numa posição vantajosa contan<strong>do</strong> com a proteção <strong>de</strong> seusconsangüíneos. Antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, a relação mari<strong>do</strong>/mulher não se reduz aosaspectos materiais da relação. As paixões e afetos entram para <strong>de</strong>sorganizaras regras da conduta social, levan<strong>do</strong> as pessoas a ajustarem suas estratégiasa novas situações.Em segun<strong>do</strong> lugar, a complementarida<strong>de</strong> não resi<strong>de</strong> apenas nasrelações <strong>do</strong> casal. Como tentamos mostrar, as relações <strong>de</strong> casal vêmembutidas numa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a reciprocida<strong>de</strong> – ora pacífica,ora antagônica – é exercida <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o status relativo <strong>de</strong> cada um – <strong>de</strong>sexo, ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> pertencimento familiar (ver também FONSECA, 1995;BRITES, 1993; JARDIM, 1999).Agora, para melhor enten<strong>de</strong>r o lugar <strong>do</strong> serviço <strong>do</strong>méstico remunera<strong>do</strong><strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta configuração <strong>de</strong> valores, cabe consi<strong>de</strong>rar como os elementosmais fracos da ca<strong>de</strong>ia – mulheres e velhos – negociam seu lugar político nocircuito <strong>de</strong> troca social. Veremos então que a complementarida<strong>de</strong> estratificada(<strong>de</strong>scrita na relação patroa-empregada no último capítulo) engendra táticasparticulares da parte das pessoas mais abaixo na hierarquia para garantir oseu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> barganha.

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