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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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1233.6 A Vingança <strong>de</strong> Nêmisis: expressão performática das relações entrepatrões e empregadas <strong>do</strong>mésticasEsses exemplos <strong>de</strong> narrativas <strong>de</strong> acusação mostram que, para além daassimetria <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas relações, a acusação <strong>de</strong>sferida pelos patrõesou captada pelas empregadas indica um campo comunicativo entre as partes.A gramática das situações <strong>de</strong> acusação <strong>de</strong> "roubo" é <strong>do</strong>minada pelas partesenvolvidas no conflito, quase como num ritual performático, on<strong>de</strong> o roteiro <strong>do</strong>sacontecimentos já é conheci<strong>do</strong> pelos atores e pela platéia. Um código <strong>de</strong>falas, gestos e práticas que, embora claramente manifesto, não é jamaisexplicita<strong>do</strong>, num acor<strong>do</strong> mu<strong>do</strong> entre as partes, sobre as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.Para Scott (1990), em quase to<strong>do</strong>s os contatos entre subalternos e<strong>do</strong>minantes é este " roteiro público" (public transcript) que está em atuação. Eseu conteú<strong>do</strong> é dita<strong>do</strong> pelas relações <strong>de</strong> afastamento e subalternida<strong>de</strong>pretendidas pelos <strong>do</strong>minantes.Repousa nesse saber compartilha<strong>do</strong> uma noção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>hierárquica, on<strong>de</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> justiça é menos comprometida com aigualda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> que com a relação <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> entre as partes.Ou seja, não se questiona a assimetria <strong>do</strong>s sujeitos, ela existe e é um fato <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>. É basea<strong>do</strong> nessa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> que a acusação <strong>de</strong> "roubo" po<strong>de</strong> serfeita aos subalternos. Entretanto, essa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> não é uma relaçãosimples <strong>de</strong> opressão <strong>do</strong>s <strong>do</strong>minantes sobre os <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s. Existe um espaço<strong>de</strong> negociação on<strong>de</strong> o "roubo" cometi<strong>do</strong> pelos subalternos é uma atitu<strong>de</strong>presumível, intrínseca à relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Quan<strong>do</strong> a patroa <strong>de</strong>Túlia estabelece um tempo para o objeto ser encontra<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> Túliatambém admite a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que talvez alguma empregada tenha pegoo anel ou quan<strong>do</strong> seu Beto compreen<strong>de</strong> o furto <strong>de</strong> pequenas coisas como

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