12.07.2015 Views

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

198CONSIDERAÇÕES FINAISEnquanto a bibliografia <strong>de</strong>nunciava que os patrões submetiam asempregadas a um sistema <strong>de</strong> <strong>do</strong>minação perverso através das relaçõesclientelistas, eu encontrava, no meu trabalho <strong>de</strong> campo, evidências cada vezmais abundantes <strong>do</strong> quanto, pelo menos as empregadas <strong>do</strong>mésticas <strong>de</strong>Jardim Veneza, valorizavam este tipo <strong>de</strong> relacionamento. Nenhuma atitu<strong>de</strong>das patroas po<strong>de</strong>ria ser mais revoltante <strong>do</strong> que a “mesquinharia”. Não passaras roupas usadas das crianças para os filhos da empregada, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>presentear a empregada com um sofá velho, renegar sobras <strong>de</strong> comida, oureclamar <strong>do</strong> sumiço <strong>de</strong> sabonete – to<strong>do</strong>s esses “presentes”, que os analistasarrolam como o “aviltante pagamento extra-salarial”, faziam, aos olhos dasempregadas, a diferença entre uma "boas patroa" e uma que erainsuportavelmente avarenta. Num horizonte cada vez mais marca<strong>do</strong> peloschama<strong>do</strong>s da participação política mo<strong>de</strong>rna, on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>mocracia passa peloreconhecimento <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong> cada um, como encarar essas atitu<strong>de</strong>s semcon<strong>de</strong>ná-las ao anacronismo político? Meu dilema era <strong>de</strong>cidir se asempregadas <strong>do</strong>mésticas vivem em um universo político tão "atrasa<strong>do</strong>" quesão levadas a avaliar positivamente aquilo que os analistas consi<strong>de</strong>ramcompletamente negativo (ver, por exemplo, FARIAS, 1983; GODSMITH, 1993;LEÓN, 1993; MOTTA, 1977), ou se os relacionamentos clientelistas com ospatrões são, <strong>de</strong> fato, táticas que lhes possibilitam tirar o melhor proveitopossível <strong>de</strong> uma situação altamente <strong>de</strong>sfavorável.Para tentar respon<strong>de</strong>r a essa pergunta, fiz um longo percurso, cheio <strong>de</strong>percalços. Aliás, diz-se da tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> que é só quan<strong>do</strong> o estudantetermina que se dá conta <strong>de</strong> on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ter começa<strong>do</strong>. Foi durante oprocesso da pesquisa que fui me dan<strong>do</strong> conta da natureza ina<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>uma série <strong>de</strong> conceitos giran<strong>do</strong> em torno da noção <strong>de</strong> cidadania – conceitosque, até aquele momento, tinham me pareci<strong>do</strong> pertinentes. Talvez aqui,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!