12.07.2015 Views

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

89 ) 4 1 Na ênfase dada por empregadas a certas tarefas <strong>do</strong>mésticas, apareceuma outra noção <strong>de</strong> limpeza, associada a uma aparência bonita, brilhante,que se possa ver. Por exemplo, o relato sobre técnicas <strong>de</strong> limpeza <strong>de</strong> Túlia -empregada experiente, <strong>do</strong>na <strong>de</strong> uma casa que <strong>de</strong>stoa das outras <strong>de</strong> seubairro pelo esmero da arrumação - não há menção nenhuma a germes emicróbios. O limpo é visível 56 . Na organização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vêmas empregadas, o próp<strong>rio</strong> significa<strong>do</strong> <strong>do</strong> que seja cuidar da casa po<strong>de</strong> assumiroutros contornos. No entanto, as patroas não concebem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>uma outra or<strong>de</strong>m. Agem como se existisse (como se só pu<strong>de</strong>sse existir) umúnico código <strong>de</strong> valores e perspectivas compartilha<strong>do</strong> entre elas 57 .Esta constatação leva a uma terceira hipótese que não é inteiramenteincompatível com as primeiras duas, <strong>de</strong> que as queixas têm como objetivomarcar a fundamental infe<strong>rio</strong>rida<strong>de</strong> da empregada. Assim, transparecemidéias <strong>de</strong> que essas trabalha<strong>do</strong>ras portam uma incapacida<strong>de</strong> pessoal, fruto <strong>do</strong><strong>de</strong>spreparo cultural, moral e cognitivo <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> baixa renda. Trata-se <strong>de</strong>uma censura sutil e constante que acompanha a <strong>de</strong>squalificação da própria56 No bairro <strong>de</strong> moradia das empregadas, observamos que, mesmo dispon<strong>do</strong><strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> encanamento <strong>de</strong> água em suas casas, essas mulheres têmo costume <strong>de</strong> armazenar água da chuva em tonéis. Como o Espírito Santoenfrentava um surto <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue na época da pesquisa, perguntamos sobre avisita <strong>do</strong>s técnicos da saú<strong>de</strong> pública: “Ah, eles andaram por aí, botaramremédio aqui, mas logo que eles saíram verti toda água fora. Ora, botarveneno na água da gente!” (Claudina). Para essas pessoas, o “veneno” e osmicróbios coloca<strong>do</strong>s na água são igualmente imperceptíveis. Mas como elasviram alguém botar o veneno no tanque, ele torna-se, portanto, mais real queo micróbio ou mal por ele causa<strong>do</strong>. No capítulo um, indico a discussão acercadas noções <strong>de</strong> limpeza levanta<strong>do</strong>s por Vigarello (1996), on<strong>de</strong> a questãovisibilida<strong>de</strong>/invisibilida<strong>de</strong> tornam-se fundamentais para <strong>de</strong>finir representaçõessobre higiene.57 Mary Douglas (1976) <strong>de</strong>substancializa a idéia <strong>de</strong> limpeza e sujeira: ”não há sujeira absoluta:ela existe aos olhos <strong>de</strong> quem vê” (1976, p. 12). Eliminar a sujeira, ensina a antropológa, é umato <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nação simbólica. Implica numa classificação que or<strong>de</strong>na o ambiente que nosenvolve.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!