12.07.2015 Views

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

192fé mesmo. Faz um mês que está longe <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> e não bebeu, nem dançoucom ninguém”.Apesar <strong>de</strong> aprovada por Tonho, mais uma vez meu status “fora <strong>de</strong> lugar”ficava evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>, pois era patente que nada “rolou“ porque eu era diferentedas outras mulheres <strong>de</strong>sacompanhadas. Possivelmente porque eu mesma,em ocasiões <strong>de</strong> liminarida<strong>de</strong>, trazia à tona com mais veemência meu hexiscorporal para fazer retornar minha posição <strong>de</strong> patroa e manter, assim, umaprecavida distância. Mas eu não era a única <strong>do</strong>na <strong>de</strong>ssa relação. É claro quea maioria <strong>do</strong>s homens era menos ingênuo que Eltinho e, portanto, quem <strong>de</strong>lesatrever-se-ia namorar a patroa <strong>de</strong> Edilene?Edilene e eu, no outro dia, morremos <strong>de</strong> rir <strong>do</strong> comentá<strong>rio</strong> <strong>de</strong> seu mari<strong>do</strong>,pois o que Tonho não sabia é que, assim que os homens se afastaram,Edilene e eu fomos atrás <strong>do</strong> caminhão <strong>de</strong> som on<strong>de</strong> encontramos todas asnossas amigas “<strong>de</strong>centes” beben<strong>do</strong>, fuman<strong>do</strong>, dançan<strong>do</strong> e contan<strong>do</strong> piadas.Durante o restante <strong>do</strong> meu tempo em Jardim Veneza, pela ambigüida<strong>de</strong><strong>de</strong> meu status – fui apreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> que os grupos subalternos<strong>de</strong>senvolvem longe daqueles que os exploram, pois, cansan<strong>do</strong> <strong>de</strong> manter asaparências, aos poucos revelam os “roteiros encobertos” (hid<strong>de</strong>n transcript)aos quais não tivera acesso ante<strong>rio</strong>rmente.Se num momento eu recebia <strong>de</strong>ferência, em outro, era afrontada ou<strong>de</strong>bochada. Quan<strong>do</strong> sugeri comprar água mineral para bebermos, pois ocólera estava nas vizinhanças, Tonho me replicou irreverente: “Por que tu nãomanda encanar água mineral na casa <strong>de</strong> to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> aqui?” Outra vez,chegan<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma longa tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho pelo bairro, encontrei Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> eTonho beben<strong>do</strong> cerveja e saborean<strong>do</strong> “uma galinha frita”. Insistiram para euprovar, mas o sorriso nos seus olhos me fazia pensar que um trote vinha pelascostas. No fim, confessaram estar se divertin<strong>do</strong> com a minha repugnância.Estavam comen<strong>do</strong> um coelho que Clo<strong>do</strong>al<strong>do</strong> havia consegui<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneirapouco clara em uma loja <strong>de</strong> produtos veteriná<strong>rio</strong>s. O tom <strong>de</strong>stes encontros

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!