universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...
universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...
universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
149Claudina, as soluções para a vida não são encontradas individualmente ou<strong>de</strong>ixadas nos ombros só <strong>do</strong>s progenitores. As residências individualizadas --como mostraremos, nem <strong>de</strong> longe supõem que o núcleo básico da vida socialseja o casal.4.4 Inter<strong>de</strong>pendência: grupo <strong>do</strong>méstico e cotidianoA casa <strong>de</strong> Edilene, on<strong>de</strong> originalmente pensava em ficar hospedada, eramuito pequena: apenas um quarto, uma cozinha e uma varanda. Eu viajavacom meu filho <strong>de</strong> <strong>do</strong>is anos e, mesmo estan<strong>do</strong> disposta ao encontroetnográfico, supus que partilhar <strong>do</strong> mesmo quarto com Edilene e seu mari<strong>do</strong>ultrapassava os limites da minha necessida<strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> individualida<strong>de</strong>. Pormotivos diferentes <strong>do</strong>s meus, Edilene me aguardava com outra solução. Semabrir mão <strong>do</strong> prestígio <strong>de</strong> me receber, me ofereceu os melhores aposentos <strong>de</strong>seu grupo <strong>do</strong>méstico – um quarto na casa <strong>de</strong> sua sogra, Claudina, que morana segunda casa ao la<strong>do</strong>. Em pouco tempo <strong>de</strong>scobri que sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>me alojar na casa da sogra era sintomática da organização social <strong>do</strong> lugar.Embora as casas <strong>de</strong>ste grupo sejam separadas por muros, o cotidiano<strong>do</strong>s seus mora<strong>do</strong>res indica uma organização familiar comum, não apenasporque se distribuem uma ao la<strong>do</strong> da outra, mas porque – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a históriafamiliar até os acontecimentos mais comuns <strong>do</strong> dia a dia – mostram umainter<strong>de</strong>pendência entre os mora<strong>do</strong>res das diferentes casas 91 .A figura principal <strong>de</strong>ste grupo é Claudina (54 anos), empregada<strong>do</strong>méstica que trabalha há 23 anos com a mesma patroa. Nascida em91 Esta organização é reconhecida por outras etnografias que focalizam grupos populares.Jardim (1998) <strong>de</strong>screve uma organização <strong>do</strong>méstico-espacial (os pátios) na <strong>gran<strong>de</strong></strong> PortoAlegre, bastante similar às quais observei no Espírito Santo: “Na vila Tina, os pátiosconfiguram-se como uma unida<strong>de</strong> <strong>do</strong>méstica que esten<strong>de</strong>, coletivamente, os limites <strong>de</strong> cadaunida<strong>de</strong> <strong>do</strong>méstica. É neles que se concretizam as diversas trocas entre os mora<strong>do</strong>res <strong>do</strong>mesmo terreno e <strong>de</strong> terrenos vizinhos, constituin<strong>do</strong>-se como pontos <strong>de</strong> referência ei<strong>de</strong>ntificação para família” (1998, p. 26).