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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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12relações <strong>de</strong> contrato mo<strong>de</strong>rnas. O problema que minha pesquisa <strong>de</strong> campointroduziu nesta discussão (a qual não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser pertinente) é que asmulheres, empregadas <strong>do</strong>mésticas por mim investigadas, encontravam noserviço <strong>do</strong>méstico particularida<strong>de</strong>s que o tornavam vantajoso em relação aoutras ocupações. As vantagens por elas <strong>de</strong>stacadas coinci<strong>de</strong>m justamentecom aqueles fatores que os pesquisa<strong>do</strong>res da condição feminina consi<strong>de</strong>ramcomo as raízes da subordinação que o serviço <strong>do</strong>méstico acarreta: relaçõespersonalistas e clientelistas estruturadas na organização da família patriarcal.No contexto <strong>do</strong> meu trabalho <strong>de</strong> campo, as empregadas encontravam noserviço <strong>do</strong>méstico possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negociação inexistentes no merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>trabalho formal. Vantagens <strong>de</strong> negociar adiantamentos, faltas e até mesmo os“presentinhos”, “as sobras <strong>do</strong> jantar”, “as roupas velhas”, to<strong>do</strong>s estes ganhosextra-salariais, tão critica<strong>do</strong>s pelos analistas acadêmicos, eram <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>scomo ”o que vale a pena” no serviço <strong>do</strong>méstico.A partir <strong>de</strong>sta “provocação”, trazida pela pesquisa empírica, procureitraçar uma discussão com os estu<strong>do</strong>s sobre serviço <strong>do</strong>méstico on<strong>de</strong> o ponto<strong>de</strong> vista das pessoas investigadas existisse como plausibilida<strong>de</strong> lógica.Logo entendi que os furtos, imputa<strong>do</strong>s aos <strong>do</strong>mésticos, tambémapresentavam um panorama das tensões constitutivas <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>méstico,em nosso país. Seguin<strong>do</strong> tais pistas, foi possível localizar na literaturacientífica um enquadramento para tais tensões, as quais inci<strong>de</strong>m nasseguintes premissas: o serviço <strong>do</strong>méstico proporciona o encontro <strong>de</strong> classes<strong>de</strong>siguais numa socieda<strong>de</strong> cada vez mais marcada pela segregação e o me<strong>do</strong><strong>do</strong> “outro”; a empregada <strong>do</strong>méstica aparece como um elemento “arcaico”(tanto pela sua intromissão na intimida<strong>de</strong>, como pela <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social eeconômica que evi<strong>de</strong>ncia) no seio da “família mo<strong>de</strong>rna”; o serviço <strong>do</strong>mésticopauta-se em relações <strong>de</strong> trabalho clientelistas numa época marcada pelacidadania.

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