12.07.2015 Views

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

196sala. Edilene, mais experiente, aguardava na cozinha brincan<strong>do</strong> comRamirinho. Quan<strong>do</strong> minha amiga chegou, olhou friamente para a cena.Saben<strong>do</strong> que, antes <strong>de</strong> minha “amiga”, aquela a<strong>do</strong>lescente no sofá eracunhada da empregada, cumprimentou-a com tamanha altivez que sentimonoscompelidas a sair logo <strong>do</strong> local.Ten<strong>do</strong> me acostuma<strong>do</strong> a ser uma patroa “fora <strong>de</strong> lugar” – incômodatalvez, mas bem tolerada, na casa das empregadas, tinha entra<strong>do</strong> na ilusãoque talvez pu<strong>de</strong>sse haver a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma situação simétrica nas casasdas patroas. A reação <strong>de</strong> minha amiga trouxe-me abruptamente <strong>de</strong> volta àrealida<strong>de</strong>. Se, por diversos motivos, ten<strong>do</strong> a ver tanto com minhapersonalida<strong>de</strong>, quanto com meu status <strong>de</strong> patroa, eu era mais ou menosaceita no bairro, minhas amigas empregadas, por charmosas que fossem,nunca teriam livre trânsito no mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> minhas vizinhas.As situações contraditórias que procurei relatar na parte etnográfica<strong>de</strong>sta tese tiveram o objetivo <strong>de</strong> nos levar a pensar nas dimensões infrapolíticas(SCOTT,1990) que estão colocadas no nosso cotidiano mais íntimo eparticular. No capítulo <strong>do</strong>is, a observação da interação entre empregadas epatroas nos lares <strong>de</strong> classe média revelaram o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s códigosprescritos para o contato inter-classe no Brasil, em que relações afetuosasandam <strong>de</strong> par com a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>. Já nesta parte da pesquisa, as tensõesinerentes da relação apontavam para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> táticas sutis <strong>de</strong>insubordinação. Mas foi ao chegar na casa das empregadas que tornou-seclaro que a mistura <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e afeto – presente tanto nas relaçõesintra-familiares, como na relação empregada-patroa – não indicavanecessariamente a subserviência absoluta <strong>do</strong> subalterno. Pelo contrá<strong>rio</strong>,ten<strong>do</strong> episodicamente acesso aos roteiros encobertos (<strong>de</strong> mulheres longe <strong>de</strong>seus mari<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> empregadas longe das patroas), ficou claro que a submissãonormalmente <strong>de</strong>monstrada em situações hierárquicas não é sempre fruto <strong>de</strong>cumplicida<strong>de</strong> passiva. As piadas que traduzem elementos <strong>de</strong> antagonismo eressentimentos não anulam o teor afetivo das relações entre <strong>de</strong>siguais, massugerem que atrás da aparente <strong>de</strong>ferência <strong>de</strong>stes encontros existem não

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!