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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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63Porém, a criadagem não era apenas composta por parentes, nemmesmo a proximida<strong>de</strong> com os patrões provinha apenas <strong>do</strong>s laços familiares. Aconvivência mais ou menos íntima com os patrões também tinha a ver comuma hierarquia das funções. Descreven<strong>do</strong> os rituais da vida cotidiana, estemesmo historia<strong>do</strong>r revela-nos que esta intimida<strong>de</strong> entre servos e patrõespodia ser percebida durante as refeições, por exemplo, quan<strong>do</strong> a or<strong>de</strong>m naqual as pessoas eram servidas <strong>de</strong>pendia mais da ocupação <strong>do</strong> cria<strong>do</strong> <strong>do</strong> que<strong>do</strong>s laços <strong>de</strong> parentesco. Assim, o lavra<strong>do</strong>r mais velho e seus colegas eramservi<strong>do</strong>s antes <strong>do</strong> que boieiro e o pastor, e <strong>do</strong> que as criadas e as mulheresda família.O sangue, a ida<strong>de</strong>, o sexo e o caráter mais ou menos digno das suasfunções criavam, pois, entre as pessoas da casa, tanto diferença comohierarquia, mas nenhum vestígio <strong>de</strong>sse fosso que, entre a burguesia <strong>do</strong> séculoXIX, separava patrões e cria<strong>do</strong>s (FLANDRIN, 1991). As diferenças <strong>de</strong> statusnão constituíam uma preocupação real em uma época em que cada pessoa,afinal, pertencia a alguém.Se os cria<strong>do</strong>s podiam ser assimila<strong>do</strong>s à família (ou vice versa), osignifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> serviço <strong>do</strong>méstico era menos pejorativo; não implicava<strong>de</strong>gradação, tampouco consistia em uma ocupação execrável. Nos ensinaAriès (1981) que o serviço <strong>do</strong>méstico fazia parte <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> aprendizagemnuma época em que a escola só existia para os clérigos. Contu<strong>do</strong>, mesmo aformação <strong>de</strong> eclesiástico previa o ensinamento <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a servir.Encontram-se registros <strong>de</strong> que, na Inglaterra e na França, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oséculo XII, ser confia<strong>do</strong> como cria<strong>do</strong> a outra família era uma forma <strong>de</strong>apren<strong>de</strong>r boas maneiras, não apenas para os jovens das famílias humil<strong>de</strong>s.Duby (1981) cita como exemplo o contrato <strong>de</strong> aprendizagem que o cavaleiroGuigonet firmou com o mais velho <strong>de</strong> seus irmãos, o qual tomou seus <strong>do</strong>issobrinhos como cria<strong>do</strong>s. Para conhecer como servir à mesa, fazer as camas,acompanhar o mestre como secretá<strong>rio</strong>, os jovens passavam alguns anos <strong>de</strong>sua vida moran<strong>do</strong> longe <strong>de</strong> sua família biológica, na casa <strong>de</strong> parentes e/ou

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