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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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210com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algum acerto. Porém, como eles mantiveram-seirredutíveis, procurou o Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res Domésticos. O patrão<strong>de</strong>la compareceu então ao sindicato com uma série <strong>de</strong> notas fiscais <strong>de</strong>produtos compra<strong>do</strong>s em seu nome (rádio, fogareiro, relógio), dizen<strong>do</strong> queestes itens encontravam-se na casa <strong>de</strong> Emengarda – prova que ela os haviafurta<strong>do</strong> <strong>de</strong>le. Como eu tinha acesso tanto à casa <strong>do</strong>s patrões, como à daempregada, sabia que estes não eram itens rouba<strong>do</strong>s por Emengarda. Elaapenas usou – como é <strong>de</strong> praxe nestas relações – o nome <strong>de</strong> seus patrõespara abrir um crediá<strong>rio</strong>, cujas prestações pagou sozinha.É interessante que Seu Péricles, o patrão, não foi à policia para reaveras coisas que, afinal, legalmente lhe pertenciam. Nesta falsa acusação, opatrão utilizou-se <strong>de</strong> prerrogativas <strong>de</strong> classe para obstruir um processojurídico. Em função <strong>de</strong> sua condição econômica, ele auxiliou, com os artifíciosdas relações clientelistas, o acesso da empregada aos bens <strong>de</strong> consumo.Quan<strong>do</strong> as expectativas <strong>de</strong>sse acor<strong>do</strong> foram frustradas, ele recorreu aosméto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pressão (pouco idôneos) proporciona<strong>do</strong>s por sua posição <strong>de</strong>classe.Emengarda nem sequer cogitou <strong>de</strong> pedir a suas vizinhas, que trabalhamnas mesmas re<strong>do</strong>n<strong>de</strong>zas que ela, para <strong>de</strong>porem a seu favor no sindicato. Ascolegas <strong>de</strong> Emengarda têm consciência que não é o confronto direto que lhestrará vantagens nessa briga <strong>de</strong>sigual. Para não comprometer seu merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>trabalho, evitam mostrar-se passíveis <strong>de</strong> recorrer aos mesmos méto<strong>do</strong>s queEmem, procuran<strong>do</strong> seus direitos legais. Por outro la<strong>do</strong>, sabem que casoscomo este, quan<strong>do</strong> chegam a <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos que envolvem inquéritosjurídicos e policiais, raramente são bem sucedi<strong>do</strong>s. Até mesmo pelaoperacionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s processos que passam pelo universo da escrita (<strong>do</strong> qualestão distantes), reconhecem que facilmente po<strong>de</strong>m per<strong>de</strong>r o controle dasituação 117 . Sabem que seus <strong>de</strong>litos (quan<strong>do</strong> existem) são muito mais117 Comparan<strong>do</strong> atuação <strong>do</strong> Tribunal <strong>do</strong> Trabalho <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>sul</strong> e <strong>do</strong> Espírito Santo(quan<strong>do</strong> acompanhávamos processos <strong>de</strong> reclamação trabalhistas das empregadas),percebemos que, enquanto no Sul parece haver uma tradição <strong>de</strong> maior proteção aotrabalha<strong>do</strong>r – colocan<strong>do</strong>-se sempre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o trabalha<strong>do</strong>r ganhe alguma

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