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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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215Sugerimos que não são apenas essas questões pontuais que criam ummal-estar. Embutida na legislação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, é a própria lógica calcada numaperspectiva <strong>de</strong> direitos individuais que vai <strong>de</strong> encontro à noção <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>cultural. Trata-se <strong>de</strong> uma lógica que simplesmente não leva em contaorganizações diferenciadas <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, como aquelas que mostramosexistir entre as famílias <strong>de</strong> Jardim Veneza.Analisan<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, a lógica das relações hierárquicasembutidas não somente no serviço <strong>do</strong>méstico mas no dia a dia dasempregadas <strong>do</strong>mésticas <strong>de</strong> Jardim Veneza, voltamos finalmente nossareflexão para <strong>do</strong>is conceitos que têm servi<strong>do</strong> <strong>de</strong> base das análises sobre avida políticas brasileira: clientelismo e cidadania. Pon<strong>de</strong>ramos que,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> como são emprega<strong>do</strong>s, estes termos po<strong>de</strong>m apresentar asduas faces da mesma moeda. Que assuma-se uma perspectiva fatalistalamentan<strong>do</strong> a persistência da política clientelista tradicional, ou que proponhasevisões mais otimistas em que as forças <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização prometemintegrar to<strong>do</strong>s num mo<strong>de</strong>lo globaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> cidadania, os grupos subalternossão coloca<strong>do</strong>s como o problema principal – retrógra<strong>do</strong>s ou aliena<strong>do</strong>s, cujoscomportamentos e atitu<strong>de</strong>s têm <strong>de</strong> evoluir. Travan<strong>do</strong> perspectivas analíticasque, nos roteiros escondi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s subalternos, revelam o caráter relativamentelúci<strong>do</strong> e plenamente mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> suas práticas, somos leva<strong>do</strong>s a pensar oquadro em outros termos. Somos obriga<strong>do</strong>s a pensar formas <strong>de</strong> cidadaniacontextualizada para garantir um espaço a partir <strong>do</strong> qual estes "outros", nãointeiramente cúmplices <strong>do</strong> i<strong>de</strong>á<strong>rio</strong> mo<strong>de</strong>rno, possam participar na própria<strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> participação política.Sem levar em conta as especificida<strong>de</strong>s das relações entre patrões eempregadas <strong>do</strong>mésticas que procurei <strong>de</strong>screver, corremos o risco <strong>de</strong>, a partir<strong>de</strong> generalização, jogar por terra toda uma prática política <strong>de</strong>stas mulheres emcondição <strong>de</strong> subalternida<strong>de</strong> e, no seu lugar, colocarmos nossa perspectivasobre o que seja po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>mocracia e participação.

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