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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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90ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> limpar a casa. Assim, ao reexaminar as queixas, vemos – talcomo outras pesquisa<strong>do</strong>ras trabalhan<strong>do</strong> no Brasil – frases como: “Não seiquantas vezes já ensinei...mas ela não enten<strong>de</strong>”; “Eu ensino...mas nãoadianta”; “Tem muito a ver com pai e mãe” 58 . “Não apren<strong>de</strong> ou tem preguiça”.Idéias que, se nem sempre surtem efeito entre as empregadas (convencen<strong>do</strong>asque são incompetentes), não <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong> influenciar no comportamento <strong>de</strong>seus próp<strong>rio</strong>s filhos, contribuin<strong>do</strong> assim para a perpetuação das relações <strong>de</strong><strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> 59 .Uma última possibilida<strong>de</strong> a ser mencionada seria a <strong>de</strong> que o<strong>de</strong>sentendimento entre patroas e empregadas possa ser fruto <strong>de</strong> atos <strong>de</strong>rebeldia das trabalha<strong>do</strong>ras. Esta hipótese, no entanto, será contemplada nocapítulo seguinte, on<strong>de</strong> analisaremos as relações <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> e rebeldia.2.3 A relação com as criançasEdilene me conta, com evi<strong>de</strong>nte orgulho, o que a filha <strong>de</strong> sua patroa,uma menina <strong>de</strong> cinco anos, disse para ela: "Lene, tu podia acertar na Sena,né? Aí tu só vinha aqui prá brincar comigo. Tu podias almoçar e <strong>de</strong>itar nacama da mamãe, para <strong>de</strong>scansar, como ela faz". Edilene fecha seu relatoacrescentan<strong>do</strong>, “A idéia da menina! Deitar na sua cama?!”58 Alice Inês <strong>de</strong> Oliveira (1997), estudan<strong>do</strong> as representações <strong>de</strong> <strong>do</strong>mesticida<strong>de</strong> na década <strong>de</strong>50, mostra como as patroas eram estimuladas a reformular o comportamento dasempregadas que chegavam às suas casas já viciadas com maus hábitos <strong>do</strong> seu meio cultural.Goldstein (2000) tem sugeri<strong>do</strong> que os patrões brasileiros concebem suas empregadas comoseres estúpi<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> não inteiramente burros, porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> uma ingenuida<strong>de</strong> divertida,incapazes <strong>de</strong> assimilar hábitos mais refina<strong>do</strong>s .59 As empregadas jovens, em início <strong>de</strong> carreira, encontrarão na casa das patroas aradicalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu lugar subalterno no mun<strong>do</strong>. Uma “mulher feita”, que no seu mun<strong>do</strong> éreconhecida como adulta competente e boa <strong>do</strong>na <strong>de</strong> casa, po<strong>de</strong> sentir-se muito ofendidaquan<strong>do</strong> repreendida pela patroa.

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