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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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179arranjar “pobremente” o mo<strong>de</strong>lo recebi<strong>do</strong> <strong>de</strong> cima. Os novos elementos serãoinseri<strong>do</strong>s na <strong>de</strong>coração e organização da casa da empregada <strong>do</strong>méstica <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com os códigos culturais que po<strong>de</strong>rão lhes dar senti<strong>do</strong> 103 .Não se po<strong>de</strong> negar que uma certa “imitação” da vida <strong>do</strong>s patrões toqueessas mulheres em algum ponto, mas, observan<strong>do</strong> o seu estilo estético, épossível ver algo mais <strong>do</strong> que tentativas <strong>de</strong> aproximação da vida <strong>do</strong>s ricos.Na casa <strong>de</strong> Amélia, como na <strong>de</strong> sua patroa, a garrafa térmica para além<strong>de</strong> sua serventia, satisfaz também necessida<strong>de</strong>s estéticas. Ela compõe a<strong>de</strong>coração em ambas cozinhas, mas não da mesma maneira. Na casa dapatroa, a garrafa térmica é colocada em uma ban<strong>de</strong>ja com os <strong>de</strong>maisapetrechos para servir o café, como se <strong>de</strong>sempenhasse um uso estritamentefuncional, mas que para além <strong>de</strong>le revela uma estética da organizaçãoplanejada, on<strong>de</strong> a beleza se <strong>de</strong>monstra sem excessos <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes emconsonância com to<strong>do</strong>s os outros objetos da cozinha. Já na casa <strong>de</strong> Amélia, aempregada, a garrafa térmica juntamente com uma lata vazia <strong>de</strong> sorvete,aparece assumidamente como enfeite. Ela está disposta em cima <strong>do</strong> fogão103 Apoian<strong>do</strong>-se na distinção weberiana <strong>de</strong> “ter” e “ser”, Bourdieu (1983) sugere que oconsumo e a estética são um campo no qual as elites tentam construir constantemente umadistinção, ao passo que os grupos populares buscam, através <strong>do</strong> consumo, uma simplesimitação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> das elites, sem, no entanto, conseguir reproduzir o ‘’gosto <strong>de</strong> classe”. Noque pese, estarmos discutin<strong>do</strong> aproximações e distanciamentos entre <strong>do</strong>minantes esubalternos a partir <strong>do</strong> mesmo fenômeno, nossa interpretação é outra. Tomamos o cuida<strong>do</strong>para não reduzir a prática e visão <strong>do</strong>s grupos populares a uma simples tentativa <strong>de</strong> copiar aestética <strong>do</strong>s <strong>do</strong>minantes. To<strong>do</strong> o esforço <strong>de</strong>ste trabalho tem procura<strong>do</strong> ir em direção contrária.

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