12.07.2015 Views

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1183.4 Carregamento <strong>de</strong> formiguinha: rebeldia, rivalida<strong>de</strong> e diversão no furtoQuan<strong>do</strong> Clau<strong>de</strong> Levi-Strauss esteve no Brasil <strong>de</strong>sfrutou <strong>de</strong> algunsprivilégios incomuns para um jovem professor em início <strong>de</strong> carreira.Um <strong>de</strong>les foi o <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r contar com os serviços <strong>de</strong> uma empregada<strong>do</strong>méstica. Sua memória privilegiada lembra que, infelizmente, teveque dispensar a moça, pois ela tinha o péssimo hábito <strong>de</strong> “ pegar”as roupas <strong>de</strong> Dona Dina, sua mulher, para usá-las nos bailes <strong>de</strong>Carnaval. (Carta pessoal <strong>de</strong> Sandro José da Silva) 74 .Minhas investidas no campo (em particular na casa das empregadas)assim como minha experiência <strong>de</strong> patroa levaram-me a crer que essa ane<strong>do</strong>ta– sobre as roupas <strong>de</strong>saparecidas <strong>de</strong> Dona Dina – talvez não seja purafantasia colonialista 75 . Creio que não é <strong>de</strong> to<strong>do</strong> incomum uma empregadalevar coisas da patroa sem que esta tenha lhe concedi<strong>do</strong> permissão. Porém,na maioria das vezes, são coisas insignificantes em termos <strong>do</strong> padrãoaquisitivo <strong>do</strong>s patrões: uma lata <strong>de</strong> ervilha, um sabonete, um pouco <strong>de</strong> feijão,sacolas <strong>de</strong> supermerca<strong>do</strong>, alguns troca<strong>do</strong>s. Parece com um “carregamento <strong>de</strong>formiguinha”.Às vezes, algumas empregadas também levam empresta<strong>do</strong>temporariamente algo (uma roupa para um dia especial, calcinhas e soutiens)que as patroas vêem <strong>de</strong>saparecer e voltar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fazer alguma insinuação74Agra<strong>de</strong>ço ao Sandro José da Silva por ter me “dadiva<strong>do</strong>”, ressaltan<strong>do</strong>, em uma <strong>de</strong> suascartas, esta passagem pitoresca <strong>de</strong> Levi-Strauss pelo Brasil, registrada no livro Sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>São Paulo (1996).75Trabalhar sobre este assunto é estar ciente das limitações meto<strong>do</strong>lógicas. Como o “roubo”jamais será admiti<strong>do</strong> por parte das empregadas <strong>do</strong>mésticas, busquei, no conjunto <strong>de</strong>informações colhidas na pesquisa <strong>de</strong> campo, subsídios para ler, nas entrelinhas dasnarrativas, algumas dimensões <strong>do</strong> “roubo” das empregadas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!