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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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125experiências quotidianas e concretas (“ao invés <strong>de</strong> uma idéia abstrata <strong>de</strong>justiça ou <strong>de</strong>mocracia” (1985, p.140) num intrinca<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>entre trabalha<strong>do</strong>res e bandi<strong>do</strong>s que leva em conta gênero, ida<strong>de</strong>, localida<strong>de</strong> ecódigo <strong>de</strong> honra dificilmente resumível a uma reação à moralida<strong>de</strong> <strong>do</strong>minante.Entretanto, quan<strong>do</strong> analisa o “"roubo" eventual ou pequenos furtos” (inclusivecitan<strong>do</strong> o “aumento <strong>do</strong> "’roubo’" <strong>do</strong>méstico cada vez mais conheci<strong>do</strong> pelas<strong>do</strong>nas-<strong>de</strong>-casa das classes abastadas” (nota 12, p. 171) remeteinexoravelmente a discussão ao conceito <strong>de</strong> classe e à “revolta” re<strong>sul</strong>tante dapaulatina pauperização a que é submetida a população trabalha<strong>do</strong>ra no país.As críticas <strong>de</strong> Zaluar (1985) se, por um la<strong>do</strong>, nos chamam a atençãosobre uma dimensão própria das ações <strong>do</strong>s grupos populares, por outroacabam por reproduzir um discurso economicista já critica<strong>do</strong> por E. P.Thompson. No célebre artigo A economia moral da multidão inglesa no séculoXVII (1998) o historia<strong>do</strong>r ilumina o reducionismo econômico das interpretaçõessobre os motins <strong>de</strong> subsistência no século XVIII na Inglaterra, mostran<strong>do</strong> queestas não se reduziam a “rebeliões <strong>do</strong> estômago”. Para ele, os motins <strong>de</strong>ssaépoca po<strong>de</strong>m ser analisa<strong>do</strong>s como uma forma <strong>de</strong> ação popular baseada emcostumes tradicionais:É certamente verda<strong>de</strong> que os motins eram provoca<strong>do</strong>s peloaumento <strong>de</strong> preços, por maus procedimentos <strong>do</strong>s comerciante epela fome. Mas essas queixas operavam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um consensopopular a respeito <strong>do</strong> que eram práticas legítimas e ilegítimas naativida<strong>de</strong> <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, <strong>do</strong>s moleiros, <strong>do</strong>s que faziam o pão etc. Isso,por sua vez, tinha como fundamento uma visão consistentetradicional das normas e obrigações sociais, das funçõeseconômicas peculiares a vá<strong>rio</strong>s grupos na comunida<strong>de</strong>, as quais,consi<strong>de</strong>radas em conjunto, po<strong>de</strong>mos dizer que constituem aeconomia moral <strong>do</strong>s pobres. O <strong>de</strong>srespeito a esses pressupostosmorais , tanto quanto a privação real, era o motivo habitual para aação direta. Embora essa economia moral não possa ser <strong>de</strong>scritacomo “política” em nenhum senti<strong>do</strong> mais avança<strong>do</strong>, tampouco po<strong>de</strong>ser <strong>de</strong>scrita como apolítica, pois supunha noções <strong>de</strong>finidas, eapaixonadamente <strong>de</strong>fendidas, <strong>do</strong> bem-estar comum – noções quena realida<strong>de</strong> encontravam algum apoio na tradição paternalista dasautorida<strong>de</strong>s; noções que o povo, por sua vez, fazia soar tão alto queas autorida<strong>de</strong>s ficavam, em certa medida, reféns <strong>do</strong> povo. Assim,essa economia moral não se intrometia apenas nos momentos <strong>de</strong>perturbação social, mas incidia <strong>de</strong> forma muito geral sobre ogoverno e o pensamento <strong>do</strong> século XVIII. A palavra “motim” é<strong>de</strong>masia<strong>do</strong> pequena para abarcar tu<strong>do</strong> isso. (THOMPSOM, 1998,p.152-153)

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