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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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96histórias a suas próprias empregadas. Quan<strong>do</strong> as patroas se referiam àpessoas concretas, nunca tinham um caso <strong>de</strong> maus tratos infantis por<strong>do</strong>mésticas para contar. Pelo contrá<strong>rio</strong>, entre as pessoas pesquisadas, um<strong>gran<strong>de</strong></strong> alívio da maioria das mães-patroas era reconhecer a boa vonta<strong>de</strong> dasempregadas para com seus filhos. Apenas duas mães em toda a amostraexpressaram temores quanto à influência da empregada, e uma <strong>de</strong>stas fezquestão <strong>de</strong> relativizar seus me<strong>do</strong>s:- ! %;- ; 7 : < ,= - & & / = 1 ! / +A partir <strong>de</strong>ssas falas, seria fácil pressupor uma relação cordial “quasefamiliar”como aquela <strong>de</strong>scrita por Gilberto Freyre (1989) 63 – e, na literaturamais recente, por Roberto Da Matta (1987) – sobre a relação patrõesempregada.Mas não <strong>de</strong>vemos esquecer que é nesse mesmo ambiente queas crianças <strong>do</strong>s patrões são socializadas na lógica profundamente hierárquicaque coloca as empregadas num mun<strong>do</strong> à parte.A questão é: se existe tanta intimida<strong>de</strong> e afeto entre as crianças e suasempregadas, como se reproduzem patroas adultas com um senti<strong>do</strong> tão forte63 Como ilustra esta passagem <strong>de</strong> Casa Gran<strong>de</strong> e Senzala: “Na ternura, na mímica excessiva,no catolicismo em que se <strong>de</strong>liciam nossos senti<strong>do</strong>s, na música, no andar, na fala no canto <strong>de</strong>ninar <strong>do</strong> menino pequeno, em tu<strong>do</strong> que é expressão sincera da vida, trazemos quase to<strong>do</strong>s amarca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos <strong>de</strong>u <strong>de</strong> mamar.Que nos <strong>de</strong>u <strong>de</strong> comer, ela própria amolengan<strong>do</strong> na mão o bolão <strong>de</strong> comida. Da negra velhaque nos contou as primeiras histórias <strong>de</strong> bicho e <strong>de</strong> mal-assombra<strong>do</strong>. Da mulata que nos tirouo primeiro bicho-<strong>de</strong>-pé <strong>de</strong> uma coceira tão boa. Da que iniciou no amor físico e nos transmitiu,ao ranger da cama-<strong>de</strong>-vento, a primeira sensação completa <strong>de</strong> homem. Do moleque que foi onosso primeiro companheiro <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong>”.(FREYRE,1989, p. 283).

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