12.07.2015 Views

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

80espaço social que ocupam, as pessoas apresentam fenótipo, roupas e hexiscorporal diferentes 48 e, em <strong>gran<strong>de</strong></strong> medida, aproximam-se <strong>do</strong> espaço público<strong>de</strong> forma particular. Estas pessoas – as mulheres que povoam as ruas <strong>do</strong>bairro classe média às sete da manhã – estariam completamente “fora <strong>de</strong>lugar” caso não estivessem in<strong>do</strong> cumprir seu papel, ocupan<strong>do</strong> seu <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>lugar, como empregada <strong>do</strong>méstica, em uma casa <strong>de</strong> família 49 .Elegemos, portanto, a casa <strong>do</strong>s patrões como um <strong>do</strong>s settingsprivilegia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> análise, pois é na negociação cotidiana da organização <strong>de</strong>steespaço <strong>do</strong>méstico que se manifesta o encontro mais intenso das classesmédias e as trabalha<strong>do</strong>ras 50 . A casa da patroa é o locus da interação entreesses grupos, on<strong>de</strong> a construção social <strong>de</strong> empregada <strong>do</strong>méstica se verifica.Nossa primeira estratégia meto<strong>do</strong>lógica foi <strong>de</strong>bruçar-nos sobre o rosá<strong>rio</strong><strong>de</strong> queixas que as patroas teciam sobre suas empregadas. Queixasexaustivas sobre limpeza, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, insolências, mentiras, faltas e osintoleráveis "roubos” que as patroas atribuíam às empregadas.Tomamos as queixas não apenas como acusações <strong>do</strong>s patrões, mascomo mal-entendi<strong>do</strong>s sociológicos, levantan<strong>do</strong> como hipótese a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> uma construção diferencial tanto das concepções <strong>de</strong> limpeza eorganização <strong>do</strong>méstica, quanto <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres e direito. Dentro <strong>de</strong>steentendimento, restava-nos por um la<strong>do</strong> encontrar os elos <strong>de</strong> comunicação(necessariamente existentes entre grupos em interação) e, por outro la<strong>do</strong>,<strong>de</strong>scobrir se, em haven<strong>do</strong> algum tipo <strong>de</strong> autonomia simbólica, por quecaminhos ela se constrói.48 Ver Bourdieu (1962).49 “Casa <strong>de</strong> família” é o termo largamente usa<strong>do</strong> não só por <strong>do</strong>mésticas, mas poremprega<strong>do</strong>res e po<strong>de</strong> até mesmo aparecer em <strong>do</strong>cumentos jurídicos que <strong>de</strong>signa o lugar <strong>do</strong>trabalho da servi<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>méstica. A conotação marcante <strong>do</strong> adjetivo “<strong>de</strong> família”, parece oporseàquilo que também presume-se como lugar <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>ssas mulheres – ou seja, a casa<strong>de</strong> prostituição.50 A pesquisa, realizada na casa das empregadas, que serviu <strong>de</strong> contraponto ao queobservávamos no ambiente <strong>de</strong> classe média será apresentada nos <strong>do</strong>is capítulos seguintes.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!