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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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120bananas? De outro la<strong>do</strong>, supon<strong>do</strong> que a interpretação da patroa é correta, porque as empregadas correm o risco <strong>de</strong> ser apanhadas por tão pouco?É possível que a indignação da patroa esteja relacionada à suasensação <strong>de</strong> impotência, pois as empregadas, neste caso, <strong>de</strong>têm um po<strong>de</strong>rnão negligenciável. Por trabalharem muitos anos no mesmo lugar, jáadquiriram uma certa estabilida<strong>de</strong> no universo social <strong>do</strong> prédio. Ainda mais, apresença cotidiana da empregada na casa <strong>do</strong>s patrões possibilita que elas<strong>do</strong>minem <strong>gran<strong>de</strong></strong> número <strong>de</strong> informações sobre seus emprega<strong>do</strong>res. Duranteo trabalho <strong>de</strong> campo, <strong>de</strong>sfrutan<strong>do</strong> da confiança das empregadas, acabeiconhecen<strong>do</strong> histórias <strong>de</strong> adulté<strong>rio</strong>s, <strong>de</strong> brigas familiares, <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> abusosexual <strong>de</strong> patrões com empregadas, entre outras coisas 77 . Como a relaçãoentre essas partes é sempre tensa, inclusive pelo não cumprimento <strong>do</strong>sdireitos trabalhistas, o me<strong>do</strong> <strong>de</strong> que a roupa suja venha a ser publicizadamantém certas questões empatadas.A temerida<strong>de</strong> das empregadas, neste caso particular, parece se <strong>de</strong>ver,além da <strong>de</strong>gustação das bananas, a um certo prazer <strong>do</strong> jogo. Edilene e Túliasão amigas <strong>de</strong> longa data. Foi Túlia quem conseguiu os empregos paraEdilene no prédio on<strong>de</strong> trabalha como faxineira. Moram muito perto uma daoutra e, nos momentos <strong>de</strong> aperto (uma briga conjugal, por exemplo), é nacasa <strong>de</strong> Túlia que Edilene encontra amparo. Nos intervalos <strong>do</strong> trabalho, comomuitas vezes pu<strong>de</strong> observar, <strong>de</strong>scem até o pátio <strong>do</strong> edifício para fumar umcigarrinho e conversar. Não é difícil imaginar que, numa <strong>de</strong>ssas ocasiões, arisada diga respeito às bananas furtivamente apropriadas. Roubar um cacho<strong>de</strong> bananas po<strong>de</strong> ser mais uma <strong>de</strong> suas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diversão. Umadiversão com gosto <strong>de</strong> transgressão. Po<strong>de</strong>riam pedir um prato <strong>de</strong> comida, éclaro. Mas, para tanto, Edilene teria que transpor a barreira da vergonha ehumil<strong>de</strong>mente pedir um favor à patroa. O prato estaria repleto <strong>de</strong> "dádiva" e,com ela, a retribuição obrigatória. Rouban<strong>do</strong> um cacho <strong>de</strong> banana,<strong>de</strong>monstram sua autonomia sobre aquela economia <strong>do</strong>méstica vigiada,77 Lembremos da opinião <strong>de</strong> uma patroa citada acima, <strong>de</strong> que não convém ”ter uma inimiga<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa”.

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