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universidade federal do rio grande do sul instituto de filosofia e ...

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124parte da relação <strong>de</strong> troca entre emprega<strong>do</strong>s e patrões, estão reconhecen<strong>do</strong>uma lógica <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> <strong>do</strong>ns entre essas partes. Nesse senti<strong>do</strong>, ospequenos furtos po<strong>de</strong>riam ser interpreta<strong>do</strong>s como a “Vingança <strong>de</strong> Nêmisis”,um princípio moral expresso no esquema <strong>de</strong> troca-dádiva proposto por MarcelMauss (1974), que <strong>de</strong>nuncia o <strong>de</strong>sequilíb<strong>rio</strong> entre a abundância <strong>de</strong> uns e apobreza <strong>de</strong> outros. “A esmola é fruto <strong>de</strong> uma noção moral da dádiva dafortuna, por um la<strong>do</strong>, e <strong>de</strong> uma noção <strong>de</strong> sacrifício, por outro... a Nêmisisvinga os pobres e os <strong>de</strong>uses <strong>do</strong> excesso <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certos homens, que<strong>de</strong>vem <strong>de</strong>sfazer-se <strong>de</strong>la” (MAUSS, 1974, p. 66).Embora durante meu trabalho <strong>de</strong> campo esse assunto tenha si<strong>do</strong>extremamente recorrente nas falas <strong>do</strong>s patrões (e confirma<strong>do</strong> pelasempregadas <strong>do</strong>mésticas), o "roubo" tem si<strong>do</strong> pouco analisa<strong>do</strong> na bibliografiadas Ciências Sociais. A literatura especializada sobre serviço <strong>do</strong>méstico naAmérica Latina menciona brevemente a questão <strong>do</strong>s "roubos”, remeten<strong>do</strong>-a àdiscussão sobre as condições <strong>de</strong>sfavoráveis e injustas enfrentadas pelasservi<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>mésticas. Nestas análises, o "roubo" assume uma únicaconotação: a <strong>de</strong> “acusação” <strong>do</strong>s patrões sobre as empregadas <strong>do</strong>mésticas(CHANEY, CASTRO, 1993; KOFES, 1991).As Ciências Sociais e a História têm trata<strong>do</strong>, numa referência maisampla, questões sobre marginalida<strong>de</strong>, banditismo e violência, abordan<strong>do</strong>esses temas como sintoma <strong>de</strong> “resistência” a uma lógica burguesa (Foucault,1979; Hobsbawn 1969; Ginzburg, 1987, entre outros). Em termos da produçãonas Ciências Sociais brasileiras, Alba Zaluar (1985) é um <strong>do</strong>s poucos autoresque aborda a questão. No seu estu<strong>do</strong> sobre trabalha<strong>do</strong>res e bandi<strong>do</strong>s, estaautora se opõe as interpretações que propõem uma i<strong>de</strong>ologia <strong>do</strong>minante<strong>de</strong>masiadamente avassala<strong>do</strong>ra e monolítica nas suas instituições <strong>de</strong> controle,além <strong>de</strong> não reconhecerem na atitu<strong>de</strong> <strong>do</strong>s “<strong>do</strong>mina<strong>do</strong>s” nada mais <strong>do</strong> quereações a estas estratégias <strong>de</strong> <strong>do</strong>minação. Em sua etnografia sobre osmora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> conjunto habitacional Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus no Rio <strong>de</strong> Janeiro, Zaluarprocura mostrar que as representações sobre o universo <strong>do</strong> crime, daviolência e <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>stas pessoas são construídas a partir <strong>de</strong> suas

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