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tudo isto fazem com um ódio cordial que têm um ao outro e<br />
nestas duas coisas, isto é, terem muitas mulheres e matarem os<br />
inimigos consiste toda sua honra.” “Não se guerreiam por<br />
avareza porque não possuem mais de seu do que lhes dão a<br />
pesca, a caça e o fruto que a terra dá a todos, mas somente por<br />
ódio e vingança sendo tão sujeitos a ira que se acaso se<br />
encontram em caminho logo vão ao pau, a pedra ou à dentada<br />
e assim comem diversos animais, como pulgas e outros como<br />
este, tudo para se vingarem do mal que lhes causam”...<br />
E por aí além. Outros depoimentos não faltam e não<br />
apenas de Jesuítas. Gabriel Soares fala dos Aimorés: “Não<br />
vivem estes bárbaros em aldeias, nem casas como o outro<br />
gentio, nem há quem lh’as visse nem saiba nem desse com elas<br />
pelos matos, até hoje; andam sempre de uma para outra pelos<br />
campos e matos, dormem no chão sobre folhas; e se lhes chove<br />
arrumam-se ao pé de uma árvore, onde engenham as folhas por<br />
cima, quanto os cobre, assentando-se de cócoras; e não se lhes<br />
achou outro rastro de gazalhada. Não costumam estes alarves<br />
fazer roças nem plantar mantimentos... Vivem de frutos<br />
silvestres e caça, de saltear toda a sorte de gentio... comem<br />
carne humana por mantimento não por vingança como os<br />
outros... (Tratado, 47-8).<br />
Outro Jesuíta, António Blásquez, depõe de suas casas,<br />
dos que as têm: “São suas casas escuras, fedorentas e<br />
afumadas, em meio das quais estão uns cântaros como meias<br />
tinas, que figuram as caldeiras do inferno. Em um mesmo<br />
tempo estão rindo uns e outros chorando, tão de vagar que se<br />
lhes passa uma noite em isto sem lhe ir ninguém à mão. Suas<br />
camas são umas redes podres com a ourina, porque são tão<br />
preguiçosos que, ao que demanda a natureza, se não querem<br />
levantar. E dado caso que isto bastara para imaginar em o<br />
inferno”... (Cartas Avulsas, 173). Outro padre, ainda, visita<br />
aldeia já meio civilizada, cujos moradores tinham tornado da<br />
guerra, trazendo despojos dos vencidos: “vi que daquela carne