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Tudo isso junto de uma vez só: - teses.musicodobra...

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O foco <strong>de</strong>sta pesquisa inci<strong>de</strong> particularmente sobre três formações instrumentais –<br />

os regionais <strong>de</strong> choro, as bandas <strong>de</strong> pífano e os trios <strong>de</strong> forró – cuja importância para a<br />

formação musical <strong>de</strong> Hermeto pretendo <strong>de</strong>monstrar, investigando as relações do músico<br />

com essas tradições musicais e a forma como ele as incorporou em sua obra.<br />

Situando este trabalho em um contexto científico, <strong>de</strong>parei-me com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

interpretar situações, discursos e peças musicais e, como faço agora, escrever sobre eles.<br />

Nesta tarefa, a abordagem semiótica proposta por Clifford Geertz no livro A interpretação<br />

das culturas (Geertz 1989) norteou toda a pesquisa.<br />

Geertz enten<strong>de</strong> cultura como <strong>uma</strong> construção intersubjetiva constante e dinâmica ou<br />

um con<strong>junto</strong> <strong>de</strong> significados permanentemente construídos e reconstruídos. Seu método,<br />

<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>nsa, busca <strong>de</strong>screver o processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> <strong>uma</strong> cultura a partir <strong>de</strong> vários<br />

fios, ou seja, aspectos diversos que se entrelaçam até a construção <strong>de</strong> um significado. Se o<br />

que proponho é um mergulho na música <strong>de</strong> Hermeto Pascoal no que concerne a sua relação<br />

com alg<strong>uma</strong>s tradições musicais brasileiras, estou falando <strong>de</strong> cultura ou, como enten<strong>de</strong><br />

Geertz, estou fazendo cultura. Sobre esse processo, ele diz:<br />

A análise cultural é intrinsecamente incompleta e, o que é pior, quanto mais profunda<br />

menos completa. É <strong>uma</strong> ciência estranha cujas afirmativas mais marcantes são as que têm a<br />

base mais trêmula, na qual chegar a qualquer lugar com um assunto enfocado é intensificar<br />

a suspeita, a sua própria e a dos outros, <strong>de</strong> que você não o está encarando <strong>de</strong> maneira<br />

correta. (Geertz 1989: 39)<br />

Trata-se, portanto, <strong>de</strong> um processo dialético, <strong>uma</strong> tentativa constante <strong>de</strong> interpretar,<br />

contando <strong>uma</strong> história que po<strong>de</strong> sempre ser contestada. Meu objetivo aqui, concordando<br />

com Geertz, é menos <strong>uma</strong> “perfeição <strong>de</strong> consenso” do que um “refinamento do <strong>de</strong>bate” em<br />

torno da cultura brasileira, mais especificamente, da música brasileira. Essa abordagem<br />

interpretativa me interessa porque enfatiza o caráter vulnerável da análise e da história<br />

contada, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> boa argumentação e imaginação. O <strong>de</strong>safio do pesquisador é<br />

justamente esse: refletir sobre seu contexto <strong>de</strong> observação e assumir sua posição, <strong>de</strong> tal<br />

forma que sua parcialida<strong>de</strong> torne-se não um <strong>de</strong>feito, mas um elemento criativo a mais,<br />

contribuindo para a relevância do estudo.<br />

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