Ao mesmo tempo em que conhece as características do gênero a ponto <strong>de</strong> chamar a música <strong>de</strong> choro, Hermeto as extrapola. Nessa música particularmente, ele não utiliza o compasso convencional <strong>de</strong> 2/4, nem a forma ternária característica. No entanto, ele mesmo fala que a música é um choro e <strong>de</strong>ve ser tocada como tal. Ao escutarmos a música, notamos que ela remete ao universo do choro e po<strong>de</strong> muito bem ser tocada por flauta, pan<strong>de</strong>iro, violão <strong>de</strong> sete cordas e cavaquinho. O compasso em 7/4 provavelmente provocará mais estranhamento nos músicos <strong>de</strong> choro acost<strong>uma</strong>dos com o compasso binário tradicional do que no público leigo, a quem <strong>só</strong> interessa a escuta agradável. Mas a análise também <strong>de</strong>monstra que apesar da mudança do compasso e forma, a música apresenta muitos elementos do gênero choro na construção e <strong>de</strong>senvolvimento da melodia. A seguir, faço um <strong>de</strong>talhamento da análise da peça <strong>de</strong> Hermeto a partir dos parâmetros propostos por Dante Grela, que ajudam a perceber as unida<strong>de</strong>s formais que compõem a melodia. Como vimos no capítulo 5, um choro tradicional é geralmente constituído <strong>de</strong> três partes (A, B e C), contendo cada <strong>uma</strong> 16 compassos. O mo<strong>de</strong>lo freqüentemente utilizado na elaboração <strong>de</strong> cada parte seria: o tema seguido <strong>de</strong> <strong>uma</strong> resposta suspensiva (1º motivo) e outra <strong>vez</strong> o tema, seguido <strong>de</strong> <strong>uma</strong> resposta conclusiva (2º motivo). Ao compor <strong>uma</strong> melodia em 7/4, Hermeto transforma esse mo<strong>de</strong>lo. O tema está presente, representado por a (exposição), mas sua divisão não obe<strong>de</strong>ce à quadratura normal do choro. Ao invés <strong>de</strong> apresentar dois motivos, divi<strong>de</strong>-se em três sub-partes: a1, a2 e a3. Po<strong>de</strong>mos observar que a1 e a2 apresentam respostas suspensivas e apenas a3 apresenta <strong>uma</strong> curta resposta conclusiva, logo quebrada pela polirritmia articulatória, característica <strong>de</strong> Hermeto. O choro se divi<strong>de</strong> em duas gran<strong>de</strong>s partes (A e B), cada qual apresenta duas subpartes menores: a e b, c e d. Outra interpretação possível seria i<strong>de</strong>ntificar a sub-parte a como tema principal, e as <strong>de</strong>mais partes como variações <strong>de</strong>sse tema, <strong>uma</strong> forma livre que sugere <strong>uma</strong> linguagem <strong>de</strong> improviso. Mas, enten<strong>de</strong>ndo cada variação como <strong>uma</strong> parte distinta, po<strong>de</strong>mos dizer que, após o tema inicial (a1, a2, a3), há <strong>uma</strong> breve transição que <strong>de</strong>semboca na parte b, caracterizada por <strong>uma</strong> variação do material exposto em a. Em seguida, vem a parte c que sugere <strong>uma</strong> transformação e maior <strong>de</strong>senvolvimento do material harmônico. Segue <strong>uma</strong> passagem que caracteriza <strong>uma</strong> interjeição, ou seja, <strong>uma</strong> função <strong>de</strong> 110
tipo exclamativo, <strong>de</strong>sempenhada por unida<strong>de</strong>s que provocam <strong>uma</strong> interrupção do sentido discursivo. É o que acontece em d1, <strong>uma</strong> passagem essencialmente rítmica, um ostinato. 111
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