Tudo isso junto de uma vez só: - teses.musicodobra...
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escolas <strong>de</strong> música [...] tornou-se um dos nossos gran<strong>de</strong>s instrumentistas, um magnífico<br />
arranjador e um compositor tão maravilhoso quanto original. (Pascoal 2000: 11)<br />
Essa faceta da história <strong>de</strong> Hermeto simboliza a contradição evi<strong>de</strong>nte entre ensino<br />
musical e criação musical no Brasil. Apesar do aprendizado musical espontâneo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
muito cedo, como já foi dito, explorando sons da natureza, ferros <strong>de</strong> seu avô ferreiro até a<br />
sanfona <strong>de</strong> oito-baixos <strong>de</strong> seu pai, Hermeto teve muita dificulda<strong>de</strong> ao tentar ter acesso a um<br />
aprendizado formal <strong>de</strong> teoria musical, <strong>de</strong>vido à sua visão <strong>de</strong>bilitada. Depois <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s<br />
tentativas frustradas, <strong>só</strong> foi apren<strong>de</strong>r um pouco <strong>de</strong> teoria quando já era músico profissional:<br />
A teoria musical eu vim apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> meus 35 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, apren<strong>de</strong>ndo com a<br />
vida, sem escola sem nada. Nunca estu<strong>de</strong>i com nenhum professor. Infelizmente porque<br />
isto me tomou muito tempo. Aprendo as coisas com <strong>de</strong>duções, porque Deus fez o mundo<br />
bem feito, tem <strong>uma</strong> lógica para tudo. Não tem esse papo <strong>de</strong> <strong>isso</strong> não tem lógica. Quando<br />
não tem lógica é porque não existe. Outros confun<strong>de</strong>m lógica com padrão. Tá errado!<br />
Padronizar as coisas não tem nada a ver com lógica. (Pascoal 1999)<br />
Seu aprendizado informal <strong>de</strong>u origem a <strong>uma</strong> concepção <strong>de</strong> música totalmente ligada<br />
à vida cotidiana, inspirada pelos motivos e sons mais diversos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o jogo do Fluminense<br />
até o balançar das cortinas <strong>de</strong> sua casa. A integração entre a linguagem musical e a vida<br />
evi<strong>de</strong>ncia-se também em sua teoria musical: “O ritmo casou com a harmonia. Nasceu o<br />
tema. (...) A menina chama-se melodia” (Pascoal 1998: 51); ou “são tantos os caminhos<br />
harmônicos para a gente percorrer que digo com muita convicção: a harmonia é a mãe, o<br />
ritmo é o pai e o tema é o filho” (Pascoal 2000: 402). Para ele, a música é o casamento da<br />
mãe-harmonia com o pai-ritmo, que dá origem à filha-melodia e ao filho-tema. Muitas<br />
<strong>vez</strong>es, harmonia e ritmo ficam por conta dos filhos mais novos, que fazem muita arte... 37<br />
A teoria em torno da linguagem musical <strong>de</strong> Hermeto envolve também<br />
<strong>de</strong>nominações próprias para os conceitos e elementos musicais mais utilizados. Como<br />
vimos, a síncope é “garfinho”, a marca contramétrica que caracteriza o tresillo é a<br />
“pendurada”; além das expressões correntes utilizadas: o “chão” seria a referência <strong>de</strong><br />
metricida<strong>de</strong>, “quebrar tudo” é priorizar os acentos e ritmos contramétricos, ou seja, “fora do<br />
37 Idéia sugerida por Felipe José Oliveira Abreu, violoncelista mineiro que participou da Itiberê Orquestra<br />
Família.<br />
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